Deu nas cartas de tarô e apareceu colado no poste lá da avenida, você volta para sempre ir embora. Foi difícil acreditar e mais ainda assumir, mas está claro e não podemos negar o óbvio. Só nos resta repetir, afinal, o óbvio precisa ser dito para não ser esquecido.
Os inúmeros motivos que te fizeram voltar para a nossa história e mais ainda os que te fizeram partir ficaram na minha mente por meses. Nós estávamos tão bem que nem Freud saberia explicar o que diabos te aconteceu e porque você resolveu partir do nada. Se agitou em uma tarde de terça-feira, trocou vontades, refez suas malas e partiu sem olhar para trás. Não houve brigas. Não houve discussões e nem nada que pudesse ter te afastado. Segunda-feira tudo estava bem, compramos passagens para Argentina e, na quarta, você já estava longe demais para que eu pudesse ao menos perguntar. Chorei incessantemente por duas semanas, até me dar conta de que você não merecia nada disso: nem a tristeza, nem a raiva e muito menos o amor. Resolvi que, com você, eu não gastaria mais nada. Nem lágrimas, nem dinheiro e nem tempo. Peguei nossas passagens e fui para Argentina viver o que eu queria viver, sozinha.
Não vou reclamar do vinho e nem do tango. Nem da distância do que me era tão familiar em meus dias. Também não vou correr o risco de cuspir para cima e cair na testa: não me arrependi dos nossos momentos e nem de todas as dificuldade que enfrentamos – que fizeram de mim uma pessoa melhor – mas decidi que lembrar não me trazia nenhuma sensação a não ser de que o melhor foi você ter partido, afinal, você volta pra sempre ir embora. E talvez, o nosso amor não fosse tão forte quanto parecia. Talvez eu fosse só o seu porto seguro, ou a gostosa da rua de cima em quem você sempre pensa em ligar quando está sozinho. Ou talvez tenha sido amor mesmo, até não ser mais. Você pode ter ido embora por qualquer motivo, o que não importa agora – porque o que mais doeu foi saber que qualquer que fosse esse motivo, ele era mais forte do que cultivamos. Era mais forte do que aquilo que eu tanto acreditei que tinha força. Doeu. Chorei. Sofri. E passou. Chega!
No final das contas, restou aquela dúvida silenciosa e o sorriso discreto quando alguém sussurra que não entende como você me deixou partir. "Ele deve ser um babaca", eu sempre penso. Independente da resposta, valeu a pena tudo que aconteceu. Para o bem ou para mal, você tendo vindo para ficar ou não, não haverá nada igual. Eu sei disso. Você sabe disso. Todo mundo sabe. Você volta para sempre ir embora. Uma pena, querido, porque Buenos Aires é linda – ainda mais sem você.