Aquela vontade desesperada de te abraçar sempre que te via passou. A vontade de ficar perto, de puxar papo e ouvir tuas histórias não me invade mais. Até mesmo teu cheiro não me comove. No entanto, não vou negar que nossos braços ainda se encaixam. E que, mesmo depois de tudo a gente se abraça como se não fosse se soltar: porque é mentira. Você sempre solta. A gente sempre se solta. Não nasci colada em você, então volta e meia, por mais que eu queira – oh, me desculpe. Quisesse – ficar, eu não ficaria. E sinceramente, nem sei se quero.

A saudade de você é esperada, mas não bem-vinda. Não vou abrir a porta pra ela passar, eu fecho é tudo, inclusive a janelinha do banheiro que insiste em deixar um raio de luz entrar. A casa está arrumada pra me ensinar que de bagunça já basta meu guarda roupa, e que eu tenho que me manter longe de você mesmo. Porque você bagunça, querido: minha vida, meu coração, minha mente e a minha cama. E depois, quem fica pra limpar sou eu. Sou eu que fico o pó, e me viro em trinta pra me refazer. Sou eu que bebo o copo mais cheio de cachaça barata e bebo a dose mais amarga de tequila, sou eu quem não dou pra trás. Então, sinceramente, a vontade desesperada de te abraçar sempre que eu te via, passou. Oh, nem me lembro qual foi a última vez que eu sorri de uma piada que você contou. Do seu beijo, eu não lembro. Não sinto gostos, não sinto cheiro e nem tento. Você é feito aquelas manias que eu tenho de comer pizza em plena segunda feira de manhã: é irresistível mas faz mal. No final das contas, sou sempre eu sozinha contra o espelho, e a sensação de ter feito algo errado.

Não vale a pena se entregar a isso, amor. Você nunca valeu.