Eu sei que você acha que tem boas intenções, e que depois de tudo, eu te devia maior consideração. Eu entendo que você pensa que pode ir e voltar para a minha vida, já que durante muitos anos foi isso que eu deixei acontecer. Existem inúmeros motivos que possam justificar a sua surpresa, agitação e apego repentino pela nossa história. O tempo passou, eu segui em frente. Nossa história acabou, e eu bati a capa desse livro com força e ignorei toda possibilidade de retorno. Mas parece que você não.

Eu acredito quando você diz que sente saudade, que realmente me quer de volta e gosta de mim. É claro que você gosta de mim, uma vez que durante todos esses anos fui eu que estive ao seu lado e segurei a barra de gostar de você. E segurei sozinha. Compreendo que acha que nós dois temos muito que viver e que eu deveria sim voltar para os seus braços. Eu sei que você acha que isso é o certo. Sei que acredita nisso. Mas isso tudo é ilusão, querido. Assim como o futuro que poderia ter acontecido, essa sua ideia encantada da nossa história não existe. Seu apego repentino surgiu apenas porque eu segui em frente, e porque agora não estou disponível feito um pacote de doritos na prateleira. Ou porque na hora que a coisa ficar preta, eu não vou estar lá para dizer que tudo vai ficar bem ou resolver teus problemas, como sempre fiz. Sua saudade de mim é diretamente proporcional a minha felicidade por estar nos braços de outro homem. É isso que te incomoda amor, não a saudade. Muito menos o amor que poderia vir disso.

Você pode não perceber isso agora, e eu prometo que vou te dar um desconto. Nenhum encontro com a luz é repentino e fácil. Encarar os nossos erros e nossas falhas requerem coragem. Encarar a escuridão é difícil. Mas um dia você aprende. Um dia você vai perceber muito bem do que estou falando, e porque nossa história acabou há mais tempo do que você se deu conta. Não foi porque eu estou com outra pessoa. Não foi porque eu enfim resolvi que não quero mais nada com você. Nossa história acabou no momento em que eu me vi sozinha, enquanto você vivia suas lutas e batalhas distante demais de mim e do que fomos. Nossa história acabou quando eu precisei de você, e recebi grosseiras e palavras duras. Você rompeu primeiro, amor. Eu apenas peguei minhas coisas e sai do apartamento. E foi aí, no silêncio que seu andar faz no piso que você percebeu que estava sozinho. Não porque eu estou rindo agarrada a outro.

Durante muito tempo, amor, eu achei que você era meu destino. Durante muitos anos eu pensei que apesar de toda a luta por insistir no meu sentimento, seria nos seus braços que eu descansaria... mas no final das contas, você era apenas o meu percurso. Longos caminhos, altas montanhas. Mudanças climáticas bruscas, carro sem gasolina, bateria arriada... tudo que poderia ter dado errado, deu. Tudo que poderia ser visto e aprendido, eu vi e aprendi. E foi bacana amor. Rendeu boas histórias, tirei muitas fotos e serão imensas as lembranças que carregarei comigo. Mas você foi apenas o meu percurso amor. E ele, ele é o meu destino. Foi com ele que eu precisei trombar para saber que minha viagem estava no fim. Agora eu posso descansar, amor. Hoje, eu posso adentrar outro apartamento e fazer morada. Espero que você aprenda a morar sozinho nesse apartamentinho que durante muito tempo foi meu, mas nunca nosso.