Vai virar manchete de jornal da cidade e confesso que não tô ligando. A eletricidade que tá correndo pelas minhas veias está me fazendo ficar maluca, mas em contrapartida está me fazendo muito mais corajosa. Você não entende, porque você é essa figura incrível e reluzente. Esse lago azul cristalino e risada tão fofa. Você é o cheiro de café no final da tarde. Já eu, muralha da china. Fortaleza de mármore e reservas infindáveis. Logo eu, esse mapa com passagens secretas mas sem saída. Logo eu, esse campo minado. Você é a trilha na floresta encantada. Eu, o pântano que não foi desbravado, mesmo que você siga firme em querer desbravar tudo por aqui.

Você é feito aquele fim de tarde gostoso e lindo que acalma a gente só de olhar. Você é assim, essa paz e tranquilidade. Para você tudo parece mais fácil de se entender, mas para mim é exatamente o contrário. Eu sou o momento que antecede a noite. Nem claro, nem escuro. Eu sou a madrugada que antecede o dia. Nem escura e nem clara. Parece exagero, mas acredite que não é nem um pouco: como sempre te avisei, eu sou uma muralha, eu sou complicada, eu não vou mudar. Eu sempre fui essa incógnita que se apresentou à você desde o primeiro dia. Não consto no dicionário, não posso ser explicada. Ressaltei cada ressalva e justificativa logo na primeira semana de papo bom, mas você fez pouco caso. Você não ligou.

Parece que você já sabia. Já sabia mesmo antes de saber que queria. Parece que você já tinha a certeza. Certeza essa da qual eu nunca compartilhei, mas não duvidei. Você não fez promessas, você só cumpriu, amor. Você chegou, e fim. Você não desistiu de mim, até mesmo quando eu te pedi que fizesse isso.

Te dou todos os créditos e eis me aqui de alma e coração aberto para te ovacionar. Afinal, só você conseguiu pular o muro de dificuldades que levantei em volta de mim quando os anos e os danos fizeram de mim uma pessoa mais dura e reservada. Você e seus cabelos escuros, com esse teu sorriso de olhos fechados e leveza no abraço me embalaram em uma paz e coragem tão grande, que estou aqui confessando com toda essa eletricidade: te amo, te quero e vou ficar. Os muros ainda existem, mas não importa mais; eu abri a porta para você passar. Logo eu, com alma de pipa e milhões de vontade, acabei de decidir que vou levar um choque térmico, atravessando bruscamente pro lado quente da calçada. Conto contigo, vamos quebrar tudo.