Daniel talvez tenha sido o meu amor mais louco e desprovido de noção. Das presepadas da vida e escolhas absurdas, eu sei que ele está no topo ao lado do seu troféu. Chegou do nada ocupando e exigindo espaço, me conquistou rapidinho com todo aquele charme e pompa. Devo ressaltar que os cabelos grandes, os óculos e aquela mania de segurar minha mão eram só detalhes – e não a história toda. A história completa era que Daniel, meu Dani, apesar de amoroso e todo conversado, era também um grande amante da própria vida e de seguir seu ritmo. Com o passar dos anos, aprendi a entendê-lo e a respeitá-lo, mas por mais de uma vez eu quis estapeá-lo ao vê-lo deixar a mesa para ir se sentar em outro lugar. E acredite, ele fez isso milhares de vezes.
Daniel era do mundo. Era aquele cara que não gosta de ter lugar fixo, apesar de decorar os caminhos e as rotas. E ele volta, sempre volta. Volta com a cara deslavada, sorriso no rosto e com a leveza de quem sabe que é assim e não se desculpa. Como eu disse, aprendi a entendê-lo e a respeitá-lo, e por mais difícil que fosse assumir, éramos realmente muito parecidos. Por mais de uma vez eu abandonei uma história para ir viver outra e então, voltei do nada. Daniel era igual a mim, só fazia a mesma coisa de modos diferentes. Ou então a gente agia da mesma forma, e abandonei tantas pessoas na mesma cara de pau que ele fazia.
Discutimos inúmeras vezes por conta disso. Nos machucamos. Nos punimos. Voltamos para os braços um do outro e para as nossas conversas todas ás vezes. Não era só no mapa que a gente morava perto um do outro; na vida e no coração também. Não conseguiríamos ficar juntos, nós sabíamos. Mas isso não significava que não podíamos gastar um tempo junto – e a gente passava. Demorou um tempo até nos acertamos de verdade, até que a gente aceitou; as perdas, os medos, as limitações e os sentimentos. À nosso modo, pertencíamos as lembranças um do outro. Eu, mais louca e introspectiva, e ele amoroso e do mundo – cheio de casos e namoros relâmpagos que me pegavam de surpresa. Ele também sempre dizia que não entendia como alguém podia beber tanto quanto eu.
Dos amores que eu tive ele foi o mais louco e o desprovido de noção, mas foi o primeiro. O mais dolorido e o mais lindo – e cara de pau. Com certeza Daniel foi o meu amor mais cara de pau.