Já faz um par de semanas que tenho visto vários textos na internet dizendo o quanto às mulheres devem de ser feministas e não deixar que a sociedade coloque rótulos ou impedimentos; que não devemos nos render por conta dos machistas de plantão e do discurso patriarcal que tenta, com tanto afinco, nos calar. Quero deixar claro que meu manifesto não é contra a liberdade feminina – causa que eu sigo e apoio incondicionalmente -, mas sim contra as pessoas em geral que buscam usar desse discurso esquerdomacho só para comer mulher. Em outras palavras, meu manifesto aqui é contra os machistas enrustidos, que exigem certas atitudes das mulheres, uma vez que se elas se julgam feministas. Quer um exemplo? Semana passada mesmo eu ouvi um colega da faculdade dizer que as feministas são tudo biscoito de polvilho. Ele estava indignado pois havia saído com uma mulher que se dizia feminista, mas se recusou a ir para cama com ele quando saíram.

Acreditem ou não, esse é um discurso bem comum. Há muito machista que acredita que para sermos donas de nós mesmas devemos, por exemplo, transar na primeira noite, escolher qualquer um, evitar contato, não nos apegarmos ou qualquer coisa do tipo. É aquela velha história de confundir catraca de canhão com conhaque de alcatrão. Só validam seu discurso se você fizer o que ele(e quando eu digo ele, digo a sociedade em geral) acha que você deveria fazer. Eu sou feminista e não me lembro de ter recebido cartilha alguma com noções básicas de como devo agir, muito pelo o contrário. A causa feminista luta pela liberdade e igualdade, o direito de fazermos o que desejarmos sem nos prender a estruturas sociais que ainda dividem mulheres em castas e exigem que cumpramos normas. Nada mais ou menos do que isso. Não tem tópico algum que diz que eu tenho que fazer o que eu não quero fazer, vamos deixar claro. E muito menos se algum homem acha que eu tenho que fazer.

Ser bem resolvida, ter liberdade de escolha, é exatamente escolher o que lhe faz bem, o que lhe representa e a satisfaz. Há tempos eu lia textos em que mulheres se diziam orgulhosas de transarem na primeira noite e nem se importavam com o que os caras iriam dizer; elas transavam porque queriam. E tudo bem. Da mesma forma, já li livros e textos com discursos diferentes, em que mulheres desejavam sim ter uma ligação mais profunda com o cara. Ou então, não desejam ser mães. E tudo bem. Em vista de tudo que li e estudei ao longo da minha vida, eu bato palmas de verdade para toda mulher que ousa buscar o que deseja e falar o que pensa. Eu demorei um pouco para decidir o que funcionava para mim, mas agora que sei, eu busco isso e não abro mão. Eu ainda quero muito ser mãe daqui há alguns anos, embora coloque minha carreira em primeiro lugar. E já passei da fase de curtir o sexo fácil e rápido das noitadas, e hoje busco mais a estabilidade e leveza de um amor tranquilo. E isso não faz de mim menos bem resolvida do que aquela que resolve dar na primeira noite, ou então abdicou da vontade de ser mãe. Você me entende? E não tô nem aí se alguém vai aparecer me dizendo que eu tô sendo emotiva ou apegada. Eu sorrio, dando de ombros e mando ir para a casa do caralho, que é para onde eu mando as pessoas que insistem em dar opiniões que eu não pedi.

Eu posso muito bem encher a cara, dançar em cima de mesa de bar, chegar nos caras na noite e não me importar se você vai achar que eu subi no palco porque estou bêbada demais, ou se vai implicar com o tamanho da minha saia. Você vai dizer que me via como uma mulher bem resolvida, mas ficou decepcionado por eu não querer transar quando me levou para tomar uma cervejinha naquele bar cult da cidade. “Eu achei que você era bem resolvida”. Lembro-me de ter rido, de verdade, em todas às vezes que eu ouvi essa frase. Assim como fiz na primeira vez, continuei fazendo em todas: eu ri o mais alto que pude, e com vontade. “E eu achei que estava saindo com um homem, e não com um moleque”, essa sempre foi minha resposta. Eu sei que a sociedade cobra papéis tanto dos homens quanto das mulheres, mas eu não sou obrigada a repetir frases como em um script, então vivo minha vida com a certeza de que todos temos responsabilidades. Eu assumo a minha em agir contra o sistema. Assuma a sua e reflita sobre seu comportamento machista.

E sabe? Ao longos dos anos eu percebi que todos esses textos, e discursos superficialmente libertários e que se dizem "feministas" ao cobrarem posturas para validar sua opinião... isso é um perigo. Existem muitos caras que vão tentar te convencer disso, mas está errado. Ser bem resolvida é ser justa consigo mesma, doa a quem doer. É se honrar, é fazer suas vontades e gritar para o mundo que quem manda no seu corpo e na sua cabeça é você. Da mesma forma, é respeitar o outro e não achar que há lados, e que um deles é superior.

Isso é o tipo de coisa que todas nós devemos repetir para nós mesmas, como na terceira série nós repetimos a tabuada até gravar: eu sou livre para agir e fazer o que eu quiser, inclusive não fazer nada. Não pode esquecer. Cada mulher é diferente. Cada alma, cada corpo e cada mente. Para mim, essa ladainha de sexo ser grito de liberdade não rola mais. Essa conversa de que a maternidade limita, ou que confiar nos homens nós torna mais fracas, nada disso me convence mais. Tem gente que não liga para conexão, e tem gente que não consegue se entregar para um cara qualquer. Tem que rolar muito clima, muita conexão para me entregar a um estranho de cara. E tudo bem, colega.

Eu vivi minhas experiências, encarando tudo na cara e na coragem e sem correr. E pra mim só funcionou quando resolvi deixar de lados todas as considerações pré-determinadas que eles exigem enculcar nas cabeças das mulheres. É como uma doutrinação sutil - que as vezes é grotesca, confesso - e que quando você rompe com ela, sente que está fora do lugar. É como dizer a si mesmo que aquilo não é normal. Demorei para pecerber que meu tesão vem da conexão e da profundidade, mas depois que eu descobri a mim mesma, tudo fluiu. A minha vida eu levo na certeza do coração, e na intuição do meu corpo. E para mim é assim que a banda toca, e tudo bem se para as outras pessoas não. Eu não sou padrão de comportamento, assim como aquela sua amiga que vive a vida livre, leve e solta também não é.

Hoje, meu manifesto é pelo direito de ser intensa. De não me contentar com o que não me satisfaz, de viver pelas minhas próprias regras. Nem que para isso eu tenha que sair quinze vezes com um cara e ainda assim, às vezes, não confiar. Ou que eu resolva casar aos vinte e ter filhos antes dos trinta. Nem que pra isso eu passe meses sem me envolver de verdade com alguém, que eu evite sair com caras que sei que vão me julgar pela minha dancinha sexy em cima do palco ou pelo o fato de eu adorar beber tequila de bar em bar, ou que eu resolva ficar com todo mundo que sorriu para mim. Eu sou livre. Eu sou o que eu quiser.

Siga seus extintos, faça suas vontades. Seja ela de transar na primeira noite, ou esperar o tempo passar para ver no que vai dar. A vida é curta demais para ficar só no raso e ficar fazendo o que as pessoas esperam que você faça. Molhar os pés só até os tornozelos é para os covardes, eu sou mais intensa. Pulo com tudo, molho o cabelo e sinto a água atingir todo o meu corpo de uma só vez. Se não estiver boa, eu saio. Caso contrário, me afundo. Afinal de contas, as coisas boas estão lá no fundo.