Acho que já escrevi um texto como este, sobre o desapego e a necessidade contemporânea de fingir que não quer alguém, de fingir que não se importa quando tá morrendo por dentro. Como eu disse no outro texto, tô cansada de ouvir que tenho que ser desapegada, como se os sentimentos fossem um crime contra a minha dignidade. Eu tenho mais coisas para me preocupar além de imaginar o que os outros estão pensando sobre mim. Tem coisa mais importante do que pensar que se eu falar para um cara que lembrei dele ouvindo uma música do Bon Jovi vou soar apaixonada e dependente. Oi?! Onde tá escrito isso, querido? Por que é que eu tenho que fingir superficialidade?

Dá até vontade de revirar os olhos, bocejar e pedir licença pra dormir. Cansa, irrita, não tô suportando mais. Por que gostar de alguém é tão ruim assim? Por que dizer que quer, que se importa e que lembrou do camarada quando ouviu a tal música é tão ruim assim? Vai ver você nem gosta do cara, só lembrou mesmo. Vai ver você acha bacana ficar com ele, mas não quer casar e ter filhos com ele. Vai ver ué, são tantas variáveis que se você parar para pensar a respeito vai ver que seguir roteiro decorado de como se comportar em um relacionamento é a coisa mais estúpida existente e disseminada por aí. E daí que o cara vai achar que você tá afim? Você está afim? Ótimo. Não está afim? Então foda-se. O que os outros pensam e deixam de achar não é problema seu, é carma deles. Pronto, segue o baile. Se você é o tipo de pessoa que ocupa espaço, que é intensa e precisa viver relações com sentimento e verdade, ótimo, não aceite menos que isso. Sinta, demonstre, e se não tiver bom, vá embora. Se você for o tipo de pessoa menos expansiva, cabreira e com certo desapego, ótimo também. Não fale se não sentir, e se sentir e não quiser falar, tudo bem também. Não me importa se você sente ou não, se você quer expor ou não, o que me mata é você se sentir mal por gostar de algo ou alguém e se sentir coagido a não expor porque sentir é sinônimo de fraqueza.

Cara, isso me mata!

Gostar de alguém ainda é um dos poucos atos revolucionários em uma sociedade onde tudo é muito imediato e fácil. Onde chegar e partir é tranquilo, onde começar e deixar é o correto. Se você sente, confesse. Se você quer se abrir e deixar o sentimento chegar, faça isso. Não se sinta mal por ser amoroso e gostar da verdade nos seus relacionamentos. Você não tem que ser superficial. Não tem que manter relacionamento ruim à base de sexo e pouco diálogo só porque é o que esperam de você. Só porque é o que gente descolada faz. Eu prefiro ser piegas e antiquada, mas feliz e bem resolvida comigo mesma. Tô beijando do mesmo jeito, tô feliz do mesmo jeito e transando do mesmo jeito. Desapega dessa necessidade de fazer o que estão exigindo, porque sentir não é nem um pouco errado. Siga seu coração e sua vontade; se sentir mal fingindo que não gosta de algo e alguém não é normal. Rompa com esse discurso vazio e entre na imensidão da verdade. Sentir é bom, sinto isso também.