Não posso dizer que você chegou, partiu ou reapareceu – as andanças desses dias me mostram que nós merecemos mais. E tá, eu até poderia me dedicar a explicar as diversas facetas que você assumiu esse mês, mas prefiro me conter e assumir apenas que você se entregou. Para o bem ou para o mal, esse mês você me mostrou quem é. Bem do seu jeito, bem no ritmo da sua vontade. Você resolveu chegar novamente, decidiu partir e, por fim, só acenou de longe dizendo que ainda está aqui – mesmo que você não vá ficar. Você foi, voltou, ficou, insistiu e, no fim, bateu o prego no caixão e se entregou de uma vez. Mesmo que você não tenha falado, você se mostrou. Mesmo que o silêncio tenha sido sua escolha, você se comprometeu. A essa altura, nem me cabe dizer o que penso ou acho, porque esse mês é você quem decide. E você, amor, decidiu.

Você não se apressou em se aproximar, olhando em volta para saber se suas coisas poderiam continuar no lugar em que você decidira de antemão, e quando se sentiu confortável, você voltou a deitar no meu sofá e a cruzar os pés em cima da mesa de centro. Me concentrei em não gritar pois, afinal, eu estava feliz com sua chegada. E você trouxe cerveja, como sempre… então, preferi aproveitar sua companhia e seu colo bom. Mesmo que você ainda insista em se agitar e sair pela porta, para logo voltar outras vez e se encarapitar nos meus braços e fazer do meu quadril o seu céu.

Rapidamente, da mesma forma, você se angustiou de diversos jeitos, não satisfeito com o ritmo das coisas e da maneira como eu andava conduzindo a dança. Para você, não bastava. Para você, as coisas valiam mais e estavam sendo vendidas a preço de banana. Escutei da cozinha, absorta enquanto preparava a pipoca, você deixando a casa sem previsão de volta e me dizendo que eu deveria te pedir para ficar. Eu pediria, se pudesse. Se eu quisesse. Se eu tivesse condições de te acolher. Como não tinha e nem queria, você partiu. Me restou a pipoca e meu filme do Almodóvar que insistia em fazer jus a minha realidade geminiana.

Por fim, você reapareceu. Tão ao seu modo, puxando assunto de maneira ridícula e tentando se fazer de forte enquanto resolvia os detalhes mínimos que ainda envolviam o mistério da nossa história. Devo confessar que fiquei surpresa, mas muito feliz também. E em paz. Você mexeu na estante, revirou os livros, checou as cartas no correio e fez questão de ouvir todos os recados da secretária eletrônica para ter certeza de que não estava perdendo detalhe algum. Conversamos por horas. Confessamos verdades. Assumimos nossos crimes. No fim, quando você partiu, fiquei saudosa e exposta. Mas imensamente em paz e realizada.

Não que eu ainda consiga explicar ou justificar porque você tomou tantas formas esse mês, ou porque eu não conseguiria de fato escolher só uma situação, mas precisava relatar como em trinta dias minha vida deu uma volta de trezentos e sessenta graus para eu cair no colo logo de quem eu menos esperava. Quem chega, sempre chega. Quem parte, sempre volta. E você, que reapareceu, só me mostrou que nunca partiu de fato. E nem irá. Outubro é só um mês que passa, mas a vida… ela acontece. E acontece com você. Eu poderia até dizer que nunca mais quero passar por isso tudo, mas eu não sou uma pessoa que gosta de dizer nunca. Ainda mais para você.