Aquela conversa batida de que química constrói alguma coisa só serve como conversa pra boi dormir, mas hoje eu vou te dar o crédito porque tua lábia é boa e esse teu sorriso desarma qualquer conversa fiada. Engraçado foi ver você se desdobrar de dois modos para me convencer, e mais cômico ainda foi me ver disposta a pagar para ver esse roteiro batido, mas que Deus nos abençoe, tão bom de viver. A conversa era boa, a química acendia e no final das contas, a cerveja sempre embalou bons encontros entre nós dois. Você não veio para agregar nada – a não ser boas lembranças e uma ressaca fodida em plena segunda-feira, e tudo bem. Sua barba é maravilhosa, teu sorriso é lindo e suas mãos são firmes. Nós nos beijamos, nos agarramos e sentimos tudo o que podíamos, então agora você já pode ir embora.

E não, eu não to sendo dramática ou curta e grossa, eu to sendo magnânima. Eu estou tendo compaixão de nós dois antes mesmo que as pessoas precisem vir a ter pena. A história começa de forma inofensiva, mas a gente sabe bem onde essa rua sem saída termina e eu não estou afim de ficar pegando retorno e gastando um tempo bom que não volta. Tempo, eu quero gastar beijando na boca e rindo das piadas ridículas mas engraçadas que você conta, de resto eu dispenso e te peço que saia daqui tão logo antes que fique tarde demais e fique embaraçoso.

Eu te avisei desde o primeiro dia que seria melhor não atear fogo no canavial. Mas quando é que criança aprende que não pode mexer com fogo, enquanto não queima as mãos e o corpo todo? Quando é que aprende sobre limites se não ultrapassá-los e depois ter que lidar com os excessos? Desde a primeira troca de olhares eu sabia que eu estava encrencada, mas você, você fez questão de se enrolar como se estivesse caminhando de bom grado e boca boa, na direção do inferno. Alguém abriu a porta, e nós entramos. E antes que a gente perca o time de sair, eu já estou te pedindo, vá embora de uma vez.

Nossa despedida já estava marcada antes mesmo do nosso primeiro encontro, e a certeza do fim era eminente logo antes da primeira vez que sua mão deslizou pela curva das minhas costas e me manteve perto. Eu dispensei inúmeras desculpas para não fechar essa porta, enquanto você me ofereceu inúmeras para mantê-la aberta. E os encontros foram bons, a química foi incrível e as lembranças provavelmente vão nos perturbar por vários dias e madrugadas. Eu não ouso dizer que você vai lembrar de mim ou das minhas manias, assim como sinceramente eu nem de lembro de ter te perguntado sua data de aniversário, mas te garanto que durante uma madrugada embaçada na rua você vai se lembrar. No silêncio, você vai se perturbar. E eu nem preciso te dar motivos ou acender lembranças para isso, você sabe de tudo. Só nós sabemos de tudo. Pode partir em paz, mas parta logo assim como julho já vai. Nosso segredo sempre estará bem guardado.