O mês já está quase no fim e só agora me dei conta de que eu não tinha escrito nada para você. Estranho, né? Logo eu que tenho tantas coisas para dizer, acabei me esquecendo. No começo, não liguei, depois pensei que era mau sinal. Por fim, tive que aceitar que não se tratava de bom ou mau sinal, era só um fato: eu tinha esquecido você. Não por um momento ou por uma semana, tinha esquecido mesmo. Para sempre. Foi engraçado me dar conta disso na fila do banco. Eu sempre te pedia carona para o centro, porque os ônibus passavam sempre em horas ímpares e eu costumava sair de casa em horas pares, mas naquele dia eu simplesmente desci na hora certa e fui. Nem me lembrei de te ligar ou pensei em te ver.

Seria trágico se não fosse cômico. E apesar eu achar o fim do nosso amor uma coisa triste, o fim do amor é mais triste. Meu time perdendo no brasileirão é mais triste. A fome na África é mais triste. Universitários escrevendo proceço com c cedilha me deixa mais triste. Você sumir da minha vida, não. Talvez eu sinta falta das nossas conversas, ou então falta do seu cheiro. Eu não sei exatamente. Você fez parte da minha vida por um longo período, e é claro que você tem seu lugar ao sol, mas é que… você se levantou tantas vezes por besteiras. Você agitou tudo por aqui e mudou tantas coisas de lugar por conta de besteiras, que eu me acostumei que você estava sempre “quase de partida”. Eu te colocaria para fora uma hora, ou você se decidiria por si só. Foram tantos erros e remendos que eu nem sequer senti quando tudo se rompeu e acabou. No final das contas, foi quase um alívio. Foi tão simples que nem me dei conta, simplesmente não queria ou me importava mais.

Eu deveria estar mais triste, confesso. Mas só consigo pensar no carnaval. E no vestibular. E na viagem que eu marquei para o fim do mês. E no meu tratamento de canal. Qualquer coisa tá valendo mais do que lembrar ou me preocupar com você e suas dúvidas boçais. Até escrever este texto está me deixando tão entediada, que eu tô a fim de dormir. Mas eu precisava escrever para deixar claro que o texto, como prometido, está aqui. Não me lembrei de você, me lembrei de escrever. E isso só me prova que mesmo com todos os meus esforços, barco nenhum sai do lugar se as duas pessoas não remarem. Uma pena nosso amor ter morrido na praia. Não que eu me importe, mas você precisa saber antes que seja tarde: aprenda a nadar querido, você vai precisar. Das lições que nosso amor me deu, a que restou foi essa. Aprenda também.