Eu não consigo me lembrar de quando nos conhecemos. Sei que se eu me esforçasse eu conseguiria me lembrar do dia exato, mas estou cansada demais das nossas lembranças e remoer isso só me deixaria mais exaurida. De todas às vezes que nos desencontramos ao longo da vida, essa última vez foi a mais dolorosa. O tchau ainda está molhado na minha garganta e a resiliência com que eu acabei com tudo me traz uma paz assustadora. Uma paz maior do que você me deu em todo o nosso tempo juntos.

Você partiu, e nosso amor também. O sentimento pareceu sumir em um rompante, mas percebi que esse rio estava secando a muito tempo. Até que um dia tudo sumiu.

Você poderia ser o cara de qualquer mês. O cara da semana passada, do mês que passou ou do semestre que ainda vai passar, mas eu escolhi dezembro porque ele me lembra você. Dezembro me lembra o seu aniversário e o dia em que nos reencontramos no shopping depois de nove meses sem se ver. Éramos tão novos naquela época, que o choque de te ver sem programação me roubou o ar pelos os trinta segundos em que conversamos antes de nos separarmos novamente. Ainda me lembro do seu cheiro. Adorava você de óculos. Mas acabou. De verdade.

E embora eu goste do mês de dezembro, é um mês que divide opiniões. Para uns é um mês melancólico, para outros, um mês de recomeços. O natal e a sua aura é capaz de envolver a todos em um sentimento tão gostoso de expectativa, que quase nos convence de que somos invencíveis. Dezembro quase nos convence que essa sensação de afago no coração não vai passar. Toda vez que fecho os olhos consigo sentir essa sentimento gostoso do natal, mas assim como você, o natal vem e vai embora. Uma hora acaba. Mas volta todo ano. Insiste em voltar. Insiste em aparecer de novo.

Eu poderia dizer mil coisas horríveis sobre as mil coisas que você já aprontou ou sobre o sentimento de desamparo que já me invadiu tantas vezes, mas sinceramente, só consigo pensar nas coisas boas - e eu nem sei porque. No entanto, me lembrar dessas coisas boas, não é o suficiente para me deixar tentada a encarar todas as nossas batalhas de novo, mas é bastante para saber que não faltou nada. Nos amamos. Nos odiamos. Ficamos juntos e nos deixamos. Assim como desde o primeiro momento nós fomos nós mesmos naquele beco perto da igreja, o último momento foi apenas o reflexo de todas as escolhas que fizemos até aqui. Até na dor, a gente se amou. Ou só eu te amei, eu não sei mais. Desisti de tentar descobrir ou entender o que se passava na sua mente e no seu coração. No fim a gente nunca vai conhecer as pessoas de verdade.

Então, querido, hoje digo com convicção que já acabou. Você não vale a folha de papel que uso para escrever essas palavras, mas não as escrevo por você ou para você, eu as escrevo por mim, e os sentimentos que eu insisto em transformar em poesia. Eu sempre transformei tudo o que recebi em algo bom, já você, fez questão de acabar com tudo que recebeu. Hoje, olho para nós dois com muito amor e gratidão, apesar e tudo. Você é o meu natal que sempre volta, mas nunca fica. O sentimento é bom, mas sempre vai embora. Decidi te deixar desta vez também.