Quando eu pensava em sair de casa para estudar, eu me preocupava com várias questões. Se o gás acabasse, como eu trocaria sem deixar vazar gás e me matar ou explodir o prédio inteiro? Se eu morasse no décimo andar, como eu desceria com a sacola com o lixo? Se eu morasse em um apartamento sem sacada como secaria minhas roupas? Eras inúmeras questões que me tiraram um sono durante algum tempo, e me fizeram mais proativa que o normal. Aprendi a me virar para resolver esses problemas, antes mesmo que eles se tornassem reais. Só que de tudo que eu esperava com a minha mudança, uma eu não esperava. A saudade cruel que eu sentia da minha irmã.

Acredite se quiser, isso está me matando. Não que eu não imaginasse que sentiria falta dela, é claro que eu sentiria. Ela é minha melhor amiga, minha parceira. Mas sinceramente, a situação anda foda. E bem, eu vou te falar o porque. Eu sou uma pessoa difícil e complicada. Não diria fechada, porque eu adoro uma farofa com a galera, mas eu não estava muito sociável nos últimos anos. Amadureci muito depois que sai da minha primeira graduação, e depois de tudo que passei para me encontrar e saber o que queria fazer a seguir, eu me sentia sempre fora de órbita. Era como estar em uma festa de eletrônico e se perguntar: que diabo estou fazendo aqui? Eu tinha aumentado tanto meus padrões que o básico já não me satisfazia mais. Logo, era óbvio que eu teria poucas amizades e me sentisse, na maioria das vezes, mau compreendida. Ou pouco a vontade. Mas com minha irmã não, ela me entendia sempre. Ela entendia tudo o que tinha acontecido comigo, e entendia do que eu precisava. E eu sentia falta disso.

No entanto, eu não voltaria para a casa. Não queria e não podia. Eu precisava terminar meu curso – que eu tanto batalhei para conseguir uma vaga – e fazer os estágios com os quais eu tanto sonhava, e sem contar na especialização que só tinha na cidade em que eu estava. Tudo que eu mais amava e queria estava ali, mas minha irmã estava em casa. E eu morria de saudade. Sempre. Por conta disso, passei a dar mais valor no meu tempo com ela. Por conta disso, passei a me interessar mais por tudo que ela estava fazendo no trabalho, e mesmo de longe, eu ajudava no que podia com os trabalhos de faculdade. Mesmo em outra cidade, nós estávamos mais próximas do que nunca. Mas a saudade segue comigo sempre, o tempo todo. O orgulho por quem estou batalhando para ser, e por quem ela está se tornando, também segue. A distância só fortaleceu o que era forte, mas me mostrou que fraqueza está longe de significar sentir saudades. Sentir saudades é um luxo, é sempre ter para onde voltar. E o amor é assim: é como voltar para a casa.