Semana passada eu fiquei alguns dias na casa de um amigo que não se cansou de apontar algumas coisas sobre os textos que escrevo por aqui. Sinceramente, eu não me incomodo. O romance e a saudade são duas coisas nas quais eu sempre vi muita poesia, então é natural que eu vá escrever muito sobre isso. Não gosto de pensar que não é porque você foi infeliz no amor, que não valeu a pena no final das contas. Não é porque a saudade maltrata, que não vale a pena ser sentida. É como aquele ditado: se a vida te der limões.. pegue uma tequila e beba um shot. No meu caso, eu faço textos e divido sentimentos enquanto tomo a tequila. Muita pauleira aconteceu por aqui, mas não sofro por isso. As pessoas deveriam tentar não sofrer também.

Mas esse texto em especial, não vai ser um texto sobre como a saudade tem me torturado ou como aquele meu amor do verão passado ainda me rouba o ar, sempre que o vejo na cantina da faculdade. Na verdade, eu nem vou mais a faculdade desde que me formei. Este texto será um adeus. Um elogio fúnebre há alguém muito importante para mim, mas que hoje se vai. Sendo sincera, ele já partiu há muito tempo, mas eu sempre esperei que ele voltasse para buscar as coisas que deixou por aqui. Mas agora, depois de todos os anos e danos, acabou essa espera. Hoje, as coisas dele estão sendo colocadas para fora porque já perdeu o sentido sobre ele voltar. Este elogio fúnebre não passa disso hoje: nós seríamos incríveis se tivéssemos a chance. Como não temos, eu te digo adeus.

Antes que me julgue insensível ou covarde, deixe-me ressaltar que o covarde sempre foi você – que nunca voltou de fato, mas também nunca partiu para sempre. Covarde, foi você nas inúmeras vezes que quis voltar e não voltou. Assim como nós dois fomos diversas vezes inseguros, confusos e extremamente preocupados com as opiniões alheias. Fomos pouco amorosos. Fomos mesquinhos e tivemos muita pouca compaixão. Nunca perdoamos. Nunca falamos tudo o que sentíamos, muito menos o que pensávamos.

Gritamos quando deveríamos ter nos calados. Nos calamos quando nós deveríamos ter feito alguma coisa. A gente se matou mais pelo o que não fez do que nos erros dolorosos que cometemos. Eu, virei Geni nessa história de nós dois. Você, Bentinho. Pensei durante anos como teria sido se você tivesse deixado Capitu e amado Lucíola. Como teria sido se eu tivesse virado Helena. Como teria sido.. não sabemos. Nem para o bem ou para o mal. Nem para a paz de espírito. Nós poderíamos ter continuado nesse roteiro batido, e confesso, não seria ruim – mas roteiro só funciona para a criação de histórias inventadas, e para nós eu sempre esperei mais. Eu sempre quis mais. Mesmo que eu não tenha falado tanto. Mesmo que tenha errado. Eu sei que não fui perfeita; mas nem você foi.

Sendo assim, depois de tudo e também por conta de tudo, o que poderá vir a ser e o que foi, hoje, não importa mais. Hoje você vai embora. Coloco-te porta à fora com a certeza de que pela primeira vez em anos, um de nós está agindo pensando em nós dois de verdade. Sem expectativas externas ou necessidades frustradas. Sem sentimentos fortes deixados em segundo plano. Hoje, nosso amor acaba de vez e você parte para não voltar mais. E este elogio deixará registrado que eu não matei nós dois, e sim nós nos matamos: você, vivendo outras histórias. Eu, esperando.

Agora acabou. Descanse em paz.