Não sinto mais seu cheiro, não sei mais dos teus rastros e nem se você ainda usa aquele chinelo vermelho ou seu tênis preto. Não sei mais se você passa aquele hidratante, ou usa aquele creme no cabelo. Não sei mais identificar se você passou por aqui, exceto pelas balas de café. Por aquelas embalagens pequenininhas e escuras que indicam que uma viciada em café doce passou por aqui. Talvez hajam outros detalhes, mas não os vejo. Só vejo as malditas balas de café.

Nunca gostei delas. Nunca gostei do sabor ou do cheiro que tinham, assim como nunca gostei de você antes de você partir. As balas de café me tiravam do sério toda vez que você esvaziava os bolsos e as jogava em cima da mesa de qualquer jeito. Encará-las a distância me fazia questionar seus gostos e suas decisões. Me fazia pensar à respeito da sua personalidade nebulosa, mas encantadora. Eu teria que assumir hora ou outra que eu estava começando a me apaixonar por você. Mas não pelas balas. Nunca por elas.

Você sempre sabia o que dizer, o abraço certo para cada situação e uma bala para oferecer quando o silêncio reinava entre nós. Nunca gostei delas, mas comecei a perceber que vê-las jogadas em cima da mesa me indicavam que você estava por perto e isso me fazia sorrir, acalmando-me por dentro. Mesmo que você cheirasse a café e seu gosto fosse adocicado por essas balas horríveis que eu nunca gostei. Suas malditas balas me entregavam você, mas me despertavam a sensação de que você era louca e inadequada – afinal, quem gosta dessas balas de verdade? Nunca entendi, mas também não precisei. Você partiu, mas suas balas ficaram. Sempre como um anúncio silencioso de que você ainda passa por aqui. Assim como a saudade.

Odeio essas malditas balas de café, mas gosto do gosto que tem você. Ainda.