Não costumo me arrepender das coisas que faço e nem das decisões que tomo, mas nosso fim acabou me fazendo questionar nossa sanidade. Éramos incríveis juntos, eu sei que você se lembra, assim como as pessoas não se cansam de repetir isso para mim. Nós dominaríamos o mundo, e sabíamos disso, e embora nossa troca já fosse transcendental como era, nós acabamos nos apaixonando. Que clichê se apaixonar pelo o seu melhor amigo. Na verdade, eu acho que já era apaixonada por você e de quebra viramos melhores amigos. Deus, eu não canso de repetir e me lembrar: nós éramos incríveis juntos.

Não teve dúvidas ou hesitações quando nos pegamos de mãos dadas e ciumentos com as escolhas um do outro. A confirmação veio abafada, em uma madrugada gelada em que nós discutíamos na garagem aqui de casa: a gente se amava, quem diria. Nos gostávamos de uma forma tão genuína e queríamos ficar juntos para o que viesse adiante. Então, ficamos juntos. A gente tinha certeza que estávamos no caminho certo, e querido, acredito que estávamos, mas nós nos perdemos. Nós fomos tudo e ao mesmo tempo nós fomos nada. A dor de ver nossa amizade se espezinhar foi maior do que ver nosso relacionamento amoroso acabar. Te deixar ir de vez foi mais difícil do que deixar ir nós dois juntos.

Eu senti sua falta. Eu sinto sua falta. Eu sempre vou sentir sua falta. Sinto falta do modo de como você me abraçava, do seu sorriso tão tranquilo ao me ver entrando pela sala, de como você repetia a mesma coisa mil vezes até que eu entendesse – e não se cansava. Sinto falta até de quando você levantava a sobrancelha quando eu falava algo sem sentido. Eu sinto falta até de você me contando sobre as outras garotas e fingindo estar bravo por eu estar me metendo com caras tão idiotas. Eu sinto falta da droga do cheiro do seu perfume, aquele perfume doce maldito que eu odiava, mas hoje eu sinto falta. Sinto falta de nós dois andando de mãos dadas, com você alegando que meus pés eram pequenos demais para me sustentar e que se você não fizesse isso eu acabaria caindo alguma hora. Hoje é engraçado assumir que todas vezes que você me soltou, eu cai. E continuo caindo.

Deus, como eu sinto falta do meu melhor amigo! Sinto falta de como eu te batia e você nem ligava. Sinto falta das nossas risadas, dos planos pro futuro, dos diversos casos contados e dos segredos proferidos quando havia dor. Eu sinto falta de como você acabava com a minha dor, e eu não deixava a sua vir. Eu sinto imensa falta dos seus carinhos, de olhar para essa sua cara de cachorro sem dono e sentir aquela vontade de levar pra casa e cuidar. Eu sinto falta do seu ciúme. Eu sinto falta do meu ciúme. Eu sinto falta das pessoas dizendo que éramos perfeitos juntos, das piadas sem graças, das mentiras criadas sobre nós dois. Eu sinto falta dos seus conselhos, do modo como você passava a mão no meu cabelo,e beijava a minha testa dizendo pra eu me acalmar porque eu sou muito estressada e estava ficando velha. Eu sinto falta de você nervoso quando eu saía sem avisar e voltava do nada.

Eu sinto falta de ouvir seu coração bater, deitada no teu peito. Eu sinto falta de você se encarapitando no meu colo, querendo carinho e não ligando para quando e onde estávamos. Eu sinto até falta das suas ligações às cinco da manhã só para me dizendo que “meu amor por você é como o galo, começa desde cedo”. Sinto falta daquelas suas malditas ligações que sempre me pegavam quando eu estava saindo do banho ou então, pronta para fritar batatas. Sinto falta até de decidir o nome dos nossos filhos, afinal, tínhamos tanta certeza que não acabaria. Como eu já disse acima, eu sinto falta de nós dois juntos, mas mais ainda, eu sinto falta do meu melhor amigo. E isso, ninguém consegue resolver.