Eu não esperava te encontrar daquele jeito. Sai atrasada - tinha uma consulta logo mais, e não podia ficar para florear assuntos. No entanto, bati-me com você logo na escada. Seu sorriso me chamou atenção, enquanto você vinha me abraçar rapidamente. Seu perfume ficou em mim. Eu podia sentir ele me embalando enquanto andava apressada até o carro, e depois, mesmo que eu tirasse a jaqueta e prendesse o cabelo, seu cheiro ainda vinha até mim. Sorri de canto com a ironia: mesmo que eu não tivesse ficado contigo, você seguia comigo. Tem ideia de quanto isso é absurdo, mas gracioso? Tiro o chapéu para você, que peça rara!

Mesmo durante a tarde, enquanto folheava o livro de Foucault, seu cheiro me invadia, roubando-me sorrisos. Durante o café, enquanto eu deitava na cama para descansar dez minutos, ou quando eu insisti em dormi na sala, e acordei de uma vez com um trovão escandaloso. Seu cheiro vinha até mim, parecendo me acalmar. Se você estivesse aqui, imagino que faria piada do meu sobressalto, mas diria que fico linda toda agitada. Eu sei que fico linda agitada, o que eu não sabia era que seu perfume era tão bom e me instigaria tanto.

E você, como um homem desatento que é, nunca se dará conta disso. Não perceberá os pequenos detalhes dessa relação que se instala entre nós dois, tão sutilmente que me faz questionar se no fundo no fundo, você não planejou isso minuciosamente, da mesma forma que corrige redações ou expões trabalhos no excel. Quem poderá dizer se sim ou se não? Não lhe confessarei meus pensamentos, e não ousarei questionar os teus. Me apego ao rastro do teu perfume, sorrindo sozinha e escrevendo textos sobre está história que nem comeceu, mas parece se desenrolar com poesia. E apesar de te conhecer pouco, de poesia, pelo menos, eu sei que nos dois gostamos.