Não tem conversa atravessada ou olhada por cima de ombro, eu encaro mesmo. Cruzo as pernas, jogo a cabeça para trás, sorrio. Passo batom vermelho, roxo, marrom, rosa. Eu me inclino quando quero ouvir mais sobre o que você está falando, e reviro os olhos se você falou alguma bobagem. Eu não perco o tempo fazendo cena ou agindo sob um roteiro pré-determinado; eu sou quem eu sou, se você quiser, que me acompanhe. Você pode até julgar que a pose de menina irritada é só uma carcaça, mas eu devo assumir que eu sou mesmo irritada. E estressada, e preocupada. E muito ocupada. Haja tempo para dá conta das coisas.

Mas fazer o que, não é? A vida é complicada, as garotas são cruéis mas os homens são mais simples do que parecem. Assim como passar café é simples, assim como abrir um pacote de doritos é simples. Difícil mesmo é saber se compro clara ou bege claro. Se durmo ou não de máscara nos cílios por conta da preguiça ou tento combinar verde com amarelo. Tá vendo, eu aposto que você não entende nada disso, não é? Mas não precisa entender, meu querido, você só precisa aceitar. E se quiser, que me acompanhe. Minha indignação de sexta-feira é que os sapatos do Jimmy Choo são caros demais, e apesar de estar indo para casa passar meu final de semana em paz e sozinha – com minha garrafa de vinho – não me falta amor nessa vida; nem dramas, nem histórias e nem confusões. Quem dera eu pudesse viver sem isso viu..

E há quem insista em dizer que eu ando constantemente estressada, e bem calculista, com desinteresse social e ironia na ponta da língua. É mais forte do que eu, preciso assumir. E de sonsa só a cara, mas choro atoa. Apesar de me levantar da mesa com uma simplicidade ímpar e não me preocupar em me retirar se o que está sendo servido não me basta, eu acredito mesmo no amor. E em motivos para ficar. E em motivos para sempre voltar. E eu sempre volto. Apesar da carcaça de irritada, eu sempre volto. Porque só me interessa a companhia, uma boa história e razões para voltar.

No entanto, preciso assumir que com a passagem dos anos e a chegada dos danos, na maioria das vezes os finais felizes custam caro. A verdade dói – apesar de ser necessária – e se eu pudesse, vivia de cajuzinho, frio, filme e carinho. E livro. Muito livro para ler. E vinho, claro. E café. Ah, eu precisaria fazer uma lista, mas não estou com pressa. Se você quiser, me acompanhe. Vou gostar de apresentar meu universo à você. Só não faça bagunça ou barulho, você não vai querer me ver irritada.