Eu estava parada na frente daquela padaria lá da avenida e te vi passar de mãos dadas com a sua namorada modelo. Ela falava, falava, falava e você assentia, dando pequenos sorrisos sem jeito. Sorri instintivamente, me dando conta de que mesmo com a distância – vão fazer quase dez meses desde aquela conversa onde eu te mandei ir pro inferno – eu ainda te conhecia. Sua cabeça deveria estar longe, eu pensei. Quando você está pensando em algo e quer silêncio, você fica assentindo feito um bobo e sorrindo, como se estivesse concordando com alguma coisa. Achei mais graça ainda quando ela estalou os dedos na frente do seu rosto, chamando sua atenção e parou de andar. Você se virou, respirando fundo e chapou um beijo na boca dela.

Uma cena linda para um casal apaixonado, mas triste quando você se dá conta de que você estava fazendo isso porque não conseguia suportar o barulho da voz dela te afastando dos teus pensamentos. Bastou pra ela, e ela nem se deu conta.

Vocês voltaram a andar e, mais a frente encontraram aquele seu amigo do inglês. Não o baixinho, com cara de Obelix. O alto, bonitão, que ficava sorrindo tipo propaganda da Colgate. Você apresentou os dois, rapidamente, enquanto ela sorriu e começou a falar com ele. Ela pôs a mão sobre o seu ombro, porque você não segurava a mão dela. Me lembrei daquela vez que você me apresentou para os seus amigos, os dedos agarrados aos meus, todo nervoso. Engraçado, né? Não havia aquela felicidade em apresentar alguém especial para um amigo. Não havia nada. Ela tratou de se despedir do seu amigo, que te cumprimentou e seguiu seu rumo. Vocês continuaram andando, voltando a dar as mãos, mas não conversaram. O sinal abriu e os carros aceleraram. Vocês pararam, esperando. Ela comentou algo, sobre o tempo provavelmente, porque olhou para o céu. Você fez o mesmo, com descaso e quando baixou o rosto seu olhar cruzou com o meu. Eu estava do outro lado da rua, ainda em frente a padaria da avenida. Aquela mesma padaria onde eu comprei o seu bolo de aniversário, que você foi lá pagar. E onde você me comprou aquela Ruffles de churrasco que eu tava desesperada para comer.

O sinal fechou. Você sorriu.

Aquele sorriso grande, que fazia seus olhos ficarem fechadinhos. Os carros foram parando, e sua namorada apertou sua mão, te chamando para ir. Em seguida você suspirou, ainda sorrindo. Aquele suspiro de quem sabe o que eu estou pensando.

É, eu sei.

Você sabe, não é?

Ela se virou, falando com você de novo e você sorriu. Aquele sorriso infeliz, e suspirou novamente. “Eu estou infeliz”, seus olhos me disseram quando voltamos a nos encarar. Eu sorri, dando de ombros.

É querido, eu sei. Eu te avisei.