Ele namorava há uma década. Foi essa a justificativa que ouvi quando me sentei na mesa. Um casal conhecido por algumas pessoas do grupo parecia ter se separado depois de dez anos juntos, e o motivo foi a traição de um deles. Enquanto muita gente condenava o cara, algumas outras pessoas arrumavam justificativas imensas para explicar a atitude infiel. Ele namorava há uma década, o relacionamento tinha caído na rotina, a menina tinha engordado e estava mais interessada com a vida profissional do que com o namorado. Comentários ridículos, frases e mais frases machistas e fracas. Eu estava pegando o bonde andando dessa história, mas não pude deixar de escutar atenta e internalizar todas as considerações sobre o assunto. Muito provavelmente todos nós já nos vimos pregados em uma encruzilhada conhecida como “se interessar por alguém comprometido”. Por mais de uma vez isso aconteceu comigo, e por mais de uma vez eu disse não, obrigada. E encerrei o assunto. Mas houveram outras vezes… eu não me orgulho dos meus erros, mas eles me trouxeram a tal maturidade que todos falam e o discernimento para entender que mentir para mim mesma não torna o erro mais aceitável ou justificável.

Não há como tratar tal história como dois pesos e duas medidas, ou tentar relativizar motivos e situações e o que é ou não é menos pior. Se só namora, se é casado ou noivo, se tem ou não filhos… não há como relativizar tais coisas sem soar cada vez mais hipócrita e baixo. Então deixo registrado de antemão minha opinião: tá todo mundo errado. Quem trai e quem compra o flerte. Quem procura e quem aceita. Mesmo que o compromisso seja do outro, se você estou na história ciente, você também está errando. E não digo só em estar errando com a terceira pessoa do relacionamento, que não sabe que está sendo enganada, eu falo é de errar consigo mesmo também. Afinal, toda traição provém inicialmente da traição a si mesmo. E se colocar nessa situação, meu amigo, é assumir que você está disposto aceitar menos do que você merece. Mesmo que você só queira beijo na boca e sexo, há outras formas de conseguir isso. Dispense a pessoa comprometida e procure alguém solteiro como você.

E tudo bem que possam existir inúmeras considerações, inúmeros motivos e “e se”… mas como eu já disse acima, relativizar só nos torna mais hipócritas e mesquinhos, e nós não precisamos disso. Sabemos muito bem a diferença entre o certo e o errado, e como tudo que começa mal também termina mal. Se tudo na vida é escolha, temos a opção de seguir como desejamos – seja para o bem ou para o mal. E se o carma é uma lei irremediável e justa, ela cobra teu preço da forma que der. Já errei tantas vezes até aprender a lição, que hoje pressinto o cheiro de confusão há quilômetros e trabalho diariamente para não cair no mesmo conto do vigário e dizer a mim mesma que posso invadir a privacidade dos relacionamentos alheios. Mesmo que você não procure por isso, mesmo que diversas pessoas insistam em te colocar em situações de limite, saiba dizer não a tentação. Afinal, o diabo sempre se fantasia da melhor coisa quando está interessado em fazer campanha. Porque mesmo que seja a outra pessoa que termine traindo alguém, você também está errando com ele. E consigo mesma também. E se perdoar é tão difícil…