O assunto surgiu na boate, beirando as uma da manhã. Ele se aproximou arrastado, com quem sabe que segue para a forca mas insiste mesmo assim. A cerveja já tinha aberto uma premissa complicada para aquela noite: eu te falaria a verdade, doa a quem doer. Não doeu em mim, vou ser sincera, mas ele parecia desolado ao assumir as coisas para mim. Eu tive medo de você, ele me disse. Assumiu sem pudor algum que o nosso fim não foi ocasionado por nada mais além disso: “você era inteligente e forte demais para mim. Eu tive medo de você”.

Lembrei-me de Virginia Wolf. Mulher além de seu tempo, escritora, alguém com uma personalidade dual e repleta de intempéries que fariam as pessoas ao seu redor surtar. Tudo bem que Virginia tinha uma parte meio mórbida em sua alma, mas era era incompreendida. Tentaram limitá-la, tentaram lapidá-la. E não podendo aceitá-la em sua essência, a condenaram. Ela, pagou o preço enlouquecendo por ser quem era. Julgada e condenada. O choque da declaração recebida me fez pensar nisso: quem tem medo de Virginia Wolf? Eu diria que todo mundo. E quem admira Virginia Wolf? Eu diria que todo mundo. Virginia pagou o preço de ser ela mesma, e eu assumo que pago meu preço caro também. E vida que segue. Não poderia ser diferente pelo o valor que dou a mim mesma.

Se alguém te culpa porque você o faz pensar, porque você o leva ao limite ou o ajuda a viver, não se sinta mal. Não se limite ou se julgue. O tempo passa, e a inteligência virou pré-requisito em currículo e as pessoas acham que quanto mais intelectuais, mais qualificado para se envolver ou desenvolver. Mas não importa só a inteligencia intelectual, o que importa mesmo é a sua intensidade emocional; é quem você é, é como você sente e como você vive. Deixa pra lá se ele diz que tem medo de você. Virginia Wolf também era incompreendida, mas não se rendeu. Não se renda também. Eu não desisto. E toda vez que escuto um “eu tive medo de você”, fico feliz em saber que estou no caminho certo. Toda vez que me dizem isso, eu não perco a chance de dizer: e quem não teria medo, querido?