Semana passada eu me encontrei com um ex-namorado em uma feira de livros e nós nos abraçamos como se ainda fôssemos dois apaixonados sedentos pela vontade um do outro. Fiquei confusa e sem jeito, quando me dei conta de que estava com ciúmes da namorada dele. Eu já a conhecia. Eles estão juntos há tempo suficiente para se concluir que, provavelmente, vão acabar se casando. No entanto, o relacionamento perfeito e duradouro dos dois não atrapalha nem diminui o fato de o meu relacionamento com ele ser, ainda, de dois apaixonados. Terminamos há tanto tempo, mas, ainda assim, o coração aperta quando ele vai embora. Ele sempre liga pra dizer que sente saudades também.

Pensei então, por dois segundos, que por todos aqueles que eu amei – exceto por um: aquele que não deve ser mencionado – ainda sentia aquele aperto gostoso no peito. A chama, agora bem menor, ainda insistia em queimar, acalentando-me o peito e o corpo, enquanto eu me lembrava das inúmeras memórias saudosas de meus antigos amores. Todos eles, tão doces. Todos eles, tão intensos e fortes. Amei tanto cada um deles, que me recuso a acreditar que um dia, mesmo com distância, mágoa ou ócio, vou esquecê-los. Recuso-me a acreditar que, quando eu me encontrar com aquele par de olhos, não vou suspirar. Ou então, que não vou mais questionar, em uma roda de amigos no bar, porque é que não demos certo.

Encontrando-me sozinha, com muito tempo para pensar, eu me questiono: que tipo de amor é esse? Por que não se apaga e nem acaba? Por que insiste em apertar? A literatura me presenteia com inúmeras respostas para essas perguntas. Há quem diga que se o amor deixa de ser amor mesmo depois de tudo, nunca o foi. Há quem diga que amor vem e vai. Ou então, que se transforma em ódio, mas nunca deixa de ser amor. Porém, e quando o sentimento mora em você? Quando te faz alimentar memórias e cuidar de saudades, mas não te cobra a pessoa? E quando o sentimento só está lá? Como um fósforo, pronto para ser acesso e incendiar tudo. Mas você não incendeia, você não pode. A pessoa não é mais sua. Não existe mais um relacionamento, só esse sentimento de saudade e lembrança. Que tipo de amor é esse? Seria mesmo amor?

Recuso-me acreditar que o nome disso é apenas saudade. Você querido, que tanto amei e sonhei ao longo dos dias e meses, não é mais meu, mas o nosso amor, o nosso sentimento gostoso construído ao longo de tantas memórias e histórias, esse sim ainda me pertence. E pode ainda não ter seu lugar reservado no dicionário com um nome ou significado correto, mas é amor. De que tipo, não sei, mas com certeza é amor.