Eu prometi que não escreveria mais textos sobre saudade, porque todos os meus amores passaram e me deixaram – assim como a saudade e a raiva partiram também. Você não merece mais texto nenhum e nem que as palavras organizem-se em frases amorosas, mas preciso assumir que diferente dos outros você não passou. Sua saudade passou, nossa vontade passou, até nosso amor parece ter passado, no entanto, mesmo que toda a sua bagagem tenha me deixado, foi você mesmo que não me deixou; ainda segue entranhado em mim feito aquela música do rougue que todo mundo lembra quando alguém grita rougue. Consegue me entender, amor?
Hoje é quarta-feira e eu não sei se você se lembra, mas era o dia que você costumava me buscar na faculdade pois eu tinha só o primeiro horário. Hoje é quarta-feira e era o único dia da semana que a gente podia se beijar sem se preocupar com o tempo e espaço e tomar milkshake de chocolate, estacionados naquele bairro deserto perto do hospital. Quarta-feira era o dia que eu costumava ir no cinema nos meus dias de solteira – já que era mais barato por conta daquela promoção antiga – mas hoje claramente a quarta se tornou a “quarta da saudade” e eu tô aqui escrevendo para você com aquela minha caneca de café do lado. Como você costumava dizer.. “você ainda me faz fazer coisas que eu não acredito que ainda tenha coragem”, quem diria, eu nem sabia que ainda tinha o que falar e pelo visto ainda tenho. Inclusive, tenho coragem para proferi-las em espaço e linhas. Quem diria..
Como bem expõe o título, eu tô com saudade. Não aquela saudade doída e dramática, eu tô sentindo uma saudade discreta. Uma saudade sóbria, apesar de intensa. Aquela saudade que aperta no fundo do peito de leve e te faz sorrir quando você percebe que aquela música que tocou no rádio na hora do almoço era a sua preferida, ou que ironicamente sua irmã tá na mesma aula de coach que a minha e ela tem o seu sorriso – menos os teus olhos. A saudade que eu tô sentindo é aquela saudade da dúvida, de saber se eu ia ou não te ver, você sabe qual é? Aquela saudade de hesitação e vontade? Aquele tipo de saudade de ter que refletir intimamente – porque eu jamais assumiria para você, é claro – se eu usaria verde ou rosa, só porque você tá vindo me encontrar. Juro que eu tô sentindo saudade até de discutir com você e ter que jogar na sua casa as inúmeras coisas que já joguei outras inúmeras vezes na sua cara. Eu tô com saudade de ser repetitiva, infantil e ridícula. Claramente nota-se o meu desespero ou retardo mental, mas aposto que você compartilha desse sentimento de impotência emocional comigo – nem que seja só às vezes. Nem que seja quando nossos olhares se cruzam do nada em um encontro inesperado em uma praça. A gente tá morrendo de saudade, só não vai assumir. Você se finge de indiferente e eu de madura; o roteiro é bom e até convence, nós que não somos bons atores.
Eu tô com saudade e nessa quarta-feira que eu intitulei com o sentimento que tu me serve agora, eu gostaria só de ressaltar que assim como a saudade incomoda e tortura à sua maneira, todas as lembranças bacanas também me embalam a alma em dias de gratidão ou amor. Adoraria matar a saudade e pular de quarta para um final de semana inteirinho com você. Não vou dizer que aguardo tua volta ou a mudança de roteiro, mas preciso confessar que reviravoltas sempre me foram bem vistas e benquistas. Você nunca gostou do que era ensaiado e nem eu tive saco para ficar no mesmo discurso muito tempo. Quarta-feira da saudade logo mais vai mudar para outro status, e espero que seja uma quinta-feira com você. Ou sexta, ou o resto da vida. Não que eu seja tão carinhosa assim, mas a saudade tá me amolecendo hoje. Mas só hoje.