Logo eu caí no conto do vigário. Logo eu cometi a burrice neandertal de fazer isso. Por dois segundos fiquei suspensa no ar e então me dei conta. Poxa, precisamos parar. Precisamos para de atrelar a felicidade à magreza. Precisamos parar de atrelar uma vida feliz e completa com um corpo esbelto e enxuto. Todas as pessoas do mundo enfrentam o dia-a-dia aprendendo, ainda, a viver. E não é justo julga-los ou condena-los por seus corpos. O que importa, é o que há por dentro. Pode até parecer conversa clichê, mas é apenas o coração que importa. E falando de coração, eu falo do sentimental: do que você sente e do que te impulsiona a agir. O corpo é só um adendo.
Minha opinião sobre isso sempre esteve formada. Apesar de magra e baixa, eu nunca me achei a mais propensa a entrar para o catálogo da Victoria Secrets e nunca gostei que meu quadril fosse tão mais largo que minha cintura, o que tornaria a empreitada de comprar calças terríveis. No entanto, sempre me achei bonita. Eu gostava do conjunto do meu corpo: as curvas, as formas e alma. Eu gostava das pintinhas perdidas que eu tinha, dos seios medianos que chamavam atenção mas não pesavam minhas costas. Gostava da barriga fazer uma entradinha e da cintura fina – mesmo que um lado fosse mais fino que o outro. A verdade mesmo é que eu sempre me achei bonita, mas nunca linda. Nunca fui apaixonada pelo o meu corpo. Esse romance custou a nascer e é regado dia após dia com muito amor e respeito. Meu corpo é a coisa mais fantástica que eu poderia ter recebido e preciso-lo trata-lo com respeito. Mas isso não sai em capa de jornal. O que vende, infelizmente, é um padrão irreal e cruel de corpos magros e muitas vezes, doentes.
Eu passei por isso também. A bulimia. A compulsão louca por comida, tentando me suprir de algo que mais tarde eu fui entender o que era. Todos nós estamos enfrentando batalhas na vida, é preciso ter respeito e amor por todos. Inclusive por nossos corpos. A biologia explica que cada um tem uma fisiologia e funciona de um modo. Tem gente que emagrece fácil, tem gente que ganha peso fácil. E tem gente que vive a vida inteiro com o mesmo peso. Tem gente que enfrenta o efeito sanfona e sofre. Mas sofre porque? Dia desses passeando pelo o instagram eu vi uma foto de uma menina linda, com a barriga chapada de fora com a seguinte legenda.. “depois de muita tristeza, agora eu estou me sentindo feliz de novo”. Na hora pensei: claro, magra desse jeito não tem como ser triste. Logo em seguida me dei conta. Porra, olha aí inconscientemente eu disseminando o mesmo discurso chauvinista cruel de sempre. Depois procurei saber o que tinha acontecido com a tal moça, e ela tinha perdido um dos cachorrinhos dela em um acidente. Me lembrei que quando perdi o meu gato, fiquei triste por meses e entendi, que mesmo com aquele corpo ela tinha todo direito de estar se sentindo mal. E se por um acaso ela não fosse tão esbelta, ainda assim ela tinha o direito de ser muito feliz e muito triste, se ela assim precisar. Cada um pode ser e sentir o que quiser, independente do corpo que tem.
Nós precisamos parar de atrelar a felicidade ao corpo perfeito, e parar de exigir a felicidade de quem tem o corpo perfeito. Assim como parar de condenar quem tem um corpo diferente do nosso, só porque ele está “fora dos padrões”. Padrões variam, são diferentes e muitas vezes, irreais. A nossa essência é o que conquista e mantém as pessoas a nossa volta, não nossos corpos. E se assim acontece na sua vida, se o seu corpo é no que baseia-se sua relações, reflita. Reveja. E altere seus padrões, se assim você decidir. A tão falada e sonhada liberdade é isso: escolher o que você quiser. Sem medo, dedos apontados ou julgamentos. Porque essa história de enxergar o corpo antes da alma, é com essa história que precisamos parar. Magreza não é sinônimo de felicidade: pare de acreditar nisso.