É lastimável perceber que ao nos encontrarmos estou me rami-ficando e você, evolu-indo. Sempre indo.

Nunca entendi essa mania de me partir em quatro por quem nunca fez nada por mim, e de me expor além da conta para expectadores que vão desopilar meus segredos em outros ouvidos, já que preferem outras bocas. Já observei, e virou manchete dos jornais. É sonoro entre nossos amigos: você sempre vai embora, e eu, sempre fico. Poderia facilmente ser um cenário romântico de um lindo caso de amor mas, à muito, virou tortura. E falta de vergonha na cara também. Assim como você nunca fica, você também nunca se vai por completo.

Eu já deveria estar acostumado com essa situação, mas me descubro envergonhado, nervoso. A língua formiga, e a dúvida me consome. Há muito eu não esperava te ver por aqui e agora, como sempre, você aparece sorrindo e acenando como se nada tivesse acontecido durante os últimos anos. Eu perco o ar, eu engasgo. A sensação de estar incompleto me atinge novamente, mas não vou te contar sobre a dor. Não vou fazer desse momento algo importante, que me faça questionar todas as decisões que tomei para me blindar dos meus sentimentos. Ou pelo menos, tentar me blindar.

Sabe amor, não vou me dar ao trabalho de perguntar por que você voltou, tanto porque acho que nem você sabe o porquê, tanto porque tenho medo da resposta. E, veja lá, quem sabe você tenha uma resposta verídica a me dar, uma explicação de porquê você voltou, que possivelmente estará ligada ao porquê de você sempre ir. No entanto, não há explicação para a sua partida, compreende? Se eu perguntar esperando que você responda, ou então, que você responda esperando que isso mude algo, será em vão. O estrago já está feito, a pista segue direto. Está fora de cogitação imaginar um retorno.