Não que eu goste de textos que me falem sobre lugares ou coisas que eu devo conhecer, mas peguei-me pensativa sobre momentos incríveis que vivi comigo mesma nos últimos anos. Passei por tantas situações e lugares, e me vi tentada a dividir tudo o que aprendi e escutei com alguém. Mas, verdade seja dita, existem certas coisas que devemos vivenciar sozinhos antes de pensar dividir com alguém. Não se trata de egoísmo, se trata de perspicácia. Dividir com o outro é o princípio da vida, mas vou usufruir da licença poética hoje, e dizer que: dividir seu tempo consigo mesmo primeiro, é o princípio da vida. Remexi algumas certezas, revi algumas fotos e busquei anotações perdidas nas gavetas. O resultado foi uma série de cartões postais saudosos e oito lugares que, acredite em mim, você precisa conhecer sozinho para se conhecer melhor. Mas lembre-se não se trata só do lugar, se trata de si mesmo e do autoconhecimento.

A ALTITUDE E O SILÊNCIO DO PICO DA BANDEIRA

Rodei várias estradas nos últimos cinco anos, mas nenhum dos lugares em que estacionei me deu o alto e o silêncio do Pico da Bandeira. Apesar de gostar de acampar, o frio e todo o caminho até a subida me fizeram prolongar a decisão de ir para lá. No entanto, em um final de semana comum, eu animei. A subida foi longa, meus joelhos gritavam e o frio de noite me fazia questionar minha sanidade. O calor da minha cama e do meu cobertor eram melhores, mas não tinha para onde correr, apenas subir. Subir no escuro, subir com a luz da lua, subir com o cansaço e subir com minha mente a mil. Quando amanheceu, e nós saímos para ver o nascer do sol, valeu a pena. Foi definitivamente como respirar de novo. Toda aquela vista, toda aquela altura que me deixava isolada de pensamentos ruins e sensações maçantes e chatas. Todo o silêncio e paz que o vento podia me trazer. Meus joelhos ainda gritavam, mas eu sabia que precisava daquela experiência. Precisava daquele momento para mim mesma. Fui acompanhada de quatro amigos, mas te garanto que foi como estar sozinha. Encarar as cores sendo pintadas no céu enquanto o sol se apresentava me encheram de esperança e de uma força de vontade para fazer mais. Todo mundo deveria passar por essa experiência, pensei. Situações como essas te fazem olhar para dentro e se conhecer melhor. Experimente.

A CARGA HISTÓRICA DE OURO

Quando mais nova meus pais adoravam fazer a estrada real, indo e voltando, indo e voltando. Eu visitei cada cidade umas quinze vezes, e te confesso que depois de um tempo tomei um certo desgosto pelas viagens. Quando eu e minha irmã crescemos, nós mudamos o roteiro e passamos a visitar praias – o que me entediou alguns meses depois. No entanto, depois de alguns anos e durante uma crise existencial, eu me vi fugindo para Ouro Preto durante finais de semanas a fio, e indo e voltando por aquelas estradas que tanto eu conhecia. Ouro Preto e eu tínhamos muito em comum, eu percebi. Era uma cidade forte, imponente, com construções maravilhosas e que tinha aguentado tempo difíceis. Subindo aquelas ladeiras e visitando as igrejas, você poderia ter até uma ideia de tudo o que aconteceu ali, mas nunca saberia a verdade. A única pessoa que saberia a verdade, por um exemplo, seria alguém que viveu ali e passou por tudo aquilo. Isso me fez entender uma coisa e a me desprender de outra. Aprendi que ninguém vai entender a sua história, mesmo que queira ou tente. Esse é o seu caminho, não o deles. Me desprendi da necessidade de estar sempre certa ou me explicar. Como só eu vivo minha história, e só eu sei das minhas dores e lutas, não tem porque tentar parecer convincente para alguém. A crise existencial que eu passava custou a amadurecer, mudou de face mil vezes, e mesmo que eu tenha mudado também, ainda sigo correndo para Ouro Preto quando quero pensar. Não é só a beleza de lá que te faz pensar ou olhar para dentro, toda a tristeza que ela carrega também. Avalie os dois lados.

A HOSPITALIDADE DA TAILÂNDIA

A Tailândia não foi nem de longe meu destino preferido por entre a lista que eu fiz há dois anos, mas ironicamente em uma viagem pela Ásia, um amigo meu acabou passando por lá. As praias incríveis e toda aquela cultura diferente da nossa fizeram ele repensar tudo o que conhecia sobre si mesmo, sobre o Brasil e sobre o que esperar de lá. Não é só a cozinha tailandesa que é diferente da nossa, os costumes e o tratamento também são. Os brasileiros são conhecidos como um povo receptivo, mas meu amigo jura que nunca conheceu pessoas tão amorosas e cuidadosas com estrangeiros como o povo das vilas tailandesas. Durante nossas conversas, peguei-me pensando que essa era uma coisa que eu gostaria de vivenciar: o carinho gratuito. Aquela troca de sorrisos que acontece de graça, aquela felicidade real por você estar ali. A gente passa a vida conquistando as coisas, querendo cada vez conseguir mais e as coisas começam a perder o sentido. O que realmente te faz feliz? O que realmente te faz estar tão a vontade só por estar em algum lugar ou encontrar com alguém? Se você souber as respostas dessas perguntas, você provavelmente se conhece mais do que eu me conheço, o que é um ótimo sinal. Mas se você ainda não sabe, te sugiro ir buscar as descobertas. Na Tailândia ou não, vá para onde você é querido por estar ali, e não tolerado.

A DESIGUALDADE DA ÍNDIA

Poucas coisas me deixam tão tristes e desmotivadas quanto a desigualdade. A pobreza nem sempre é financeira, muitas vezes é emocional. Muitas vezes a pessoa é pobre de espírito. E quando você se depara com a pobreza extrema, começa a ver que os problemas não existem. Começa a se achar mesquinho por sofrer por coisas tão inúteis e desnecessárias. Então, alguma vez na vida, você precisa ver isso. Você precisa vivenciar e entender que realmente o mundo não gira em torno de nós mesmos, e que existem causas maiores e que precisamos uns dos outros. Depois que repensar tudo no que você acredita, haja. Faça algo por você, e pelos os outros.

O AMOR E O BEM QUE EXISTEM NA ÁFRICA

A África possui uma cultural extensa e maravilhosa, e um povo tão hospitaleiro que a vontade será segurar todos nos colos. No meio de todo aquele caos aparente que possa te fazer ficar muito triste e confuso com tudo, existem motivos para acreditar que os bons são maioria. Existem motivos para acreditar que nem tudo se trata de obter retorno, e sim de simplesmente fazer o bem. A África real, nem sempre está na nossa lista de viagens dos sonhos, mas te peço para reconsiderar. Além das Savanas e animais magníficos que existem lá, existem uniões fortíssimas e revolucionárias. Aproveite cada minuto dessa experiência, e transcenda.

A LOUCURA DE AMSTERDÃ

Do mesmo modo poderia ser Las Vegas, Nova Yorque, Londres ou Hawai. Não me importa em que lugar você vai querer que seu passaporte seja carimbado, te peço apenas que escolha fazer uma loucura das boas, e cumpra. Experimente coisas que sempre quis, vá para festas que durem um final de semana completo e conheça pessoas de todos os tipos. Faça um brinde agradecendo a tudo isso, tire fotos vergonhosas e tome um porre que vá durar três dias. Não que eu seja adepta do uso desgovernados das coisas e de uma vida sem limites, mas pelo menos uma vez na vida, você precisa testar seus limites – com responsabilidade, é claro. – e se presentear. A vida é como um livro de vários capítulos, então tenha boas histórias para contar. E no meio de toda essa loucura, entenda o real motivo disso: você precisa aprender a se divertir sozinho. A se pegar no colo, a se controlar e a se cuidar. Ninguém vai fazer isso por você vinte e quatro horas por dia, e trezentos e sessenta e cinco dias por anos. Você depende apenas de você mesmo. Descubra isso em Amsterdã ou Las Vegas, tanto faz. Apenas busque esse entendimento, e se livre de apegos desnecessários de que outras pessoas vão fazer algo por você. Elas até irão, mas não tão bem quanto você faria.

A PAZ DO NEPAL

Eu sempre gostei de ler sobre o budismo, sobre a paz, sobre a evolução e o Nepal sempre aparecia nos livros e pesquisas. Eu poderia citar várias cidades que você poderia visitar para procurar a paz, ou então, dizer que nem se quer precisaria sair de casa. As duas afirmações seriam verdadeiras, afinal. A paz habita em você, independente de onde você está, mas como esse é um texto sobre lugares para visitar, o Nepal entra na lista. Vivemos uma vida muito conturbada em que perdemos a ligação com o nosso eu superior. Perdemos a nossa ligação com a natureza, com o meio em que vivemos e até com nós mesmos. Muitos de nós nem se quer conseguem ouvir a voz da intuição ou sentir as coisas em seu íntimo. Todo esse rompimento nos trouxeram a era de caos que vivemos hoje. Em que matamos por conflitos ideológicos, não respeitamos uns aos outros e não preservamos o nosso próprio planeta. Existem aqueles que não se sentem tocados por isso, existem aqueles que nem se quer se dão conta disso, mas se você é um daqueles que sabe que está perdido e quer se encontrar, se encontre. Busque, procure, conheça e estude. Medite. Medite no Nepal. Medite em Bali. Medite na Índia. Medite na África. Medite no aeroporto do Rio de Janeiro. Medite, e aprenda a escutar. Diminua sua voz, pare de pensar e aprenda a se desprender do que acha que sabe para encontrar o que você realmente precisa saber. Não será nem de longe um caminho fácil, o autoconhecimento que tanto se fala e tanto buscamos não é uma linha de chegada, mas uma estrada sem fim. Aprenda a caminhar direito, e a nunca desistir. A vista é linda. Visite o Nepal, e tente absorver um pouco dele para si; apesar de um terremoto terrível que o atingiu, ele continua lindo.

SUA CASA

Independente de onde você morar e com quem, nunca haverá algum lugar como nossa casa. E se você não se sente tão a vontade em sua própria casa, provavelmente é porque ai não é seu lugar. Saia e se descubra, saia e ache seu lugar. Como falei acima, o autoconhecimento, a evolução, o amor e o aprendizado são caminhos, nunca uma linha de chegada. Arrume seu canto, decore como achar melhor. A vida é como uma casa; ao passar dos anos você constrói as paredes com tudo o que aprendeu, você decora com tudo o que você viveu e descobriu, e no final das contas se você não gosta do que está vendo é porque não gosta do que se transformou. Se esse for o caso, mude. Mude de espírito, mude de ideologia, mude de país ou cidade, mude de foco. Você só precisa querer, e agir. Descubra outros lugares para visitar ao longo da vida, e aprenda mais. O caminho é sem fim, e a vista, sempre linda.