Aprender sempre foi algo latente dentro de mim. Uma vontade que parecia maior do que tudo que eu já tinha visto e experimentado, era uma força que me motivava a cada dia ir mais longe. A buscar mais, descobrir mais. Me entender mais. Aprendi desde fórmulas de química a física quântica. Li todos os livros de Edgar Allan Poe e questionei cada capítulo dos livros de King. Eu vivi de tudo. Viajei, estudei, dormi, amei, comi e gostei. Minha vida era completa e a cada dia que se passava, mais aprendia a gastar meu tempo comigo e aprendendo. Até que ele chegou.
Vicente era o nome dele. Ainda não consigo entender porque de todos os nomes que eu poderia ter escolhido para ele, Vicente foi o vencedor. A notícia pegou-me de surpresa. Eu não esperava estar grávida. Eu não esperava que no meio da minha escalada rumo ao topo, carregaria comigo agora alguém que sairia de mim. Alguém que seria parte latente da minha vida. O que todos me diziam era que eu estava para experimentar um amor descomunal que me ensinaria mais do que qualquer outro livro que eu lera. Bom, eu tinha minhas dúvidas. Mas Vicente estava empenhado a me fazer mudar de ideia.
Sempre me achei muito durona. Convicta e forte o suficiente para passar por qualquer situação, mas confesso que fraquejei logo no segundo mês com todas aqueles enjoos e queimações no estômago. Peguei-me totalmente desnorteada e entregue, tentando respirar tão lentamente para conseguir controlar meu corpo. Meu corpo que era meu, mas agora não era só meu, era nosso. Meu corpo que já não respondia só a mim. Aprendi ao longo do primeiro trimestre que não poderia comer tudo que queria, nem viver do jeito que me lembrava. Aprendi a andar devagar, com pés no chão. A comer do jeito certo, na hora certa e a respirar fundo e tentar não me estressar. A medida que minha barriga crescia e Vicente também, ele parecia dedicado a me fazer entender que ele estava lá dentro e que me irritar, não era bom para nenhum dos dois. Vicente me ensinou a desenvolver paciência. Compaixão, e generosidade. Me ensinou a pensar no outro, mesmo que ele ainda vivesse em mim.
Vicente me inundou com uma calma durante o segundo e o terceiro trimestre, que durante o primeiro ano depois que ele nasceu, nada derrubou o sentimento de plenitude que eu tinha exalando de mim. Ele me ensinou a ser amorosa, cuidadosa com os outros e a falar mais baixo. Aprendi a dormir cedo e a dar valor para o meu sono, que acreditem, nunca é demais quando se tem um bebê. Aprendi a gostar de histórias infantis. Aprendi a andar de mãos dadas e a sentar da maneira correta, porque suas costas não vão aguentar por muito tempo se você tratar sua coluna de uma forma ruim. Aprendi que a conversa é a melhor solução, sempre. Desde uma discussão com um bebê ou com um adulto. Pessoas querem saber porque, e você deve explicar a elas. Aprendi a dor e a delícia da maternidade. Aprendi o que é sentir o coração batendo fora do peito e ficar feliz de uma forma descomunal só porque alguém correu até você e pediu ajuda para calçar os sapatos. É como se você tivesse salvado o dia.
Vicente me ensinou tanta coisa e me amou de um jeito tão puro, que livro algum conseguiria dizer ou explicar o tamanho da sabedoria que ele possuía. Vicente olhava para mim como se eu fosse o mundo dele, e ria como se o mundo fosse acabar amanhã. Vicente nasceu entregue, tão solto, tão amoroso e tão meu. Me ensinou mais do que eu havia aprendido em uma vida. Valeu a pena mais do que qualquer viajem que eu já tivesse feito. Vicente e suas mãozinhas agora andavam comigo durante a minha escalada em busca dos meus sonhos, sempre sem cobrança e julgamento. Sempre com um sorriso no rosto.
Vicente, como eu já disse, estava realmente dedicado a mudar minha vida. E mudou. Nunca pensei como seria ser mãe de menino. Aliás, nunca pensei em como seria ser mãe. Mas, assim como as coisas boas e ruins da vida, filho não pede licença para vir, ele só se apresenta. Receba o seu com amor, orgulho e carinho. Vicente foi o meu maior feito e minha maior descoberta. Mil livros eu li e estudei, e nenhum deles conseguiu explicar tal amor.