Aos amantes dos caninos, peço licença para essa declaração singela ao grande amor da minha vida. Meu gato era tudo para mim, mas se foi. Vítima de uma crueldade que eu ainda não sei entender, ele partiu deixando-me completamente desnorteada sem seus miados e invasões de madrugadas na minha cama.

Meu gato me ensinou tudo que hoje faz de mim quem eu sou.

Quem tem algum felino em casa provavelmente sabe do que eu estou falando. Muitas vezes ouvi que o gato escolhe seu dono, e outras, o dono escolhe seu gato. No meu caso, eu e Séti nos escolhemos. Com todo amor e liberdade que tivemos desde o primeiro momento que o vi, até o último segundo que o observei respirar. Séti fez de mim uma pessoa imensamente melhor, e gratidão nenhuma consegue expressar o tamanho do meu amor e da minha dor.

Séti me ensinou a ser paciente, a ser mais amorosa e cuidadosa. Séti apreciou meu silêncio, sempre tão acompanhado de leituras extensas e anotações nervosas. Séti acompanhou meu sofrimento, deitando-se sempre na curva do meu pescoço. Nunca pedia licença para se deitar, mas sempre pedia cuidado ao sair. Séti me despertou uma vontade descomunal de cuidar do outro. De voltar para casa mais cedo, de ficar deitada observando-o morder seu cobertor ou então, simplesmente, olhar para o nada feito uma esfinge de verdade. Séti me ensinou a cumprir horários, a prestar atenção a minha vida e tirar um tempo para ficar simplesmente, com ele em meu colo. Séti me ensinou que companhia nem sempre é sinônimo de conversa, que você pode estar sempre do lado, mas em silêncio.

Séti fez-se de cobertor, de cachecol, de travesseiro e ombro amigo. Séti foi meu grande amor. Me ensinou a ser justa, a dizer palavras doces a todos aqueles que são importantes para mim. Séti me ensinou que dormir nunca era demais, e que comer muito é normal. Séti me escutou. Foi meu melhor amigo, amor e confidente. Iríamos juntos para a faculdade quando eu me mudasse. Tenho certeza que ele teria adorado. Um belo dia ele estava aqui, e no outro não. A dor ainda é latente, o choro já chegou aqui faz tempo. Meus olhos estão tão embaçados pelas lágrimas que por um segundo fico tentada a fechar meus olhos e a imaginar seu rosto. Pronto, imaginei. A saudade dele corta meu estômago como se fosse uma lâmina. Ainda espero que ele pule a janela e chegue como sempre, pronto para me encher de carinho.

O luto ainda existe e sempre que lembro dele, eu fecho os olhos e imagino ele se enroscando no meu pescoço. Ele partiu à pouco, mas sei que logo volta para mim de novo. Almas como as nossas se reconhecem e sempre se reencontram. Onde ele estiver, sei que ele sabe que sinto saudade e sei que ele sente também. Espero que aja muita ração vermelhinha de carne e um cobertor onde ele possa se enrolar e morder à vontade. Pescoço, sei que ele só se deitaria no meu. Séti me ensinou muito sobre lealdade e na hora certa, sei que ele vai voltar. Séti jamais falharia comigo.

Descanse em paz meu melhor amor. Mamãe ama você.