Não entendo essa gente que tem a sorte de ter a faca e o queijo na mão e ainda assim não fazem a refeição. De todas as vezes que pude me sentar à mesa do amor, eu sentei. De todas as vezes que pude me servir, eu me fartei. Tudo bem que o amor anda banalizado por aí nos últimos anos, mas não se tornou nenhuma dessas balinhas de leite que fica em consultório de dentista para ser dispensado. No entanto, foi o que acabou acontecendo com nós dois.

E quem diria; nosso santo bateu, mas nosso tempo não.

O cara de quem eu lhes falo agora, era demais. E bateu tudo. Bateu o santo, bateu o beijo, bateu os gostos, as vontades, o sexo, a química e os sonhos. Nossa troca era incrível. Só não bateu o tempo, quem diria. A gente se dava tão bem, se curtia e gostava tanto, mas nosso tempo não casava nem na simplicidade de marcar um açaí na esquina da faculdade dele. Ou então, naquela saída de domingo – já que ninguém nunca faz nada no domingo. A gente não conseguia se encontrar nunca, só nos esbarrávamos nos acasos da vida. Durante a semana no festival de cerveja, ou então de madrugada, no final de um sábado badalado. A gente se divertia tanto, era tão bom o barulho da risada dele e a leveza que eu sentia me invadir toda vez que o via, mas ironicamente, nosso tempo não deu. Acabou antes de começar, porque nunca começou de verdade. A gente tinha tempo para tudo, menos para darmos as mãos e subir por entre as escadas da vida juntos.

Confesso que fiquei chateada. Fiquei bem para baixo, e depois fiquei com raiva. Com tantas divergências que nosso relacionamento poderia ter, não tínhamos nenhuma. Apenas nosso tempo que não casava. O que acontecia, era apenas a gente que nunca se encontrava, ou se acertava. Eu queria viajar, e ele queria estudar. Eu queria ficar em casa, ele queria sair. Eu não suportava a ideia de me prender a alguém, e ele se quer conseguia andar de mãos dadas, mas a gente se gostava tanto. Se queria tanto.

E quem diria; nosso santo bateu, mas nosso tempo não.

Depois de um tempo, os desencontros aumentaram e a gente se perdeu por entre o caos do dia a dia. Sempre ocupados, sempre distraídos. Já nem sei quanto tempo faz que o vi pela última vez, mas ainda me lembro do cheiro dele e do sorriso lindo que eu tanto gostava de ver. Nosso santo ainda bate, espero que um dia o nosso tempo possa bater também.