Jurei umas quinhentas vezes que não abriria mais a janela dele no aplicativo e nem cairia na tentação de ver as fotos no Instagram, no entanto, não prometi que não escreveria mais sobre ele. Cumpri tudo o que propus a mim mesma e não pude resistir à tentação de escrever, como em um funeral, um elogio fúnebre. À você que lê esse texto, tome estas palavras como o meu adeus poético a tudo que eu e Victor fomos ou poderíamos ter sido. O que poderá vir depois do que acabou, eu não sei, e não me interessa mais. Pegue minhas palavras e as sinta como último barulho do meu amor.

Confesso que diferente dos outros textos que já escrevi, o nome Victor nunca importou ou carregou um carma consigo, apesar de toda a força que ele possuía e pela forma como sempre mexeu comigo. Não tem significado certo, para mim ele sempre foi amor. Victor era um conjunto de coisas que eu condenaria ou me irritaria em um homem. Em um universo paralelo, eu duvido que teria sequer colocado meus olhos em cima dele, mas pela ironia de um destino bem sacana, coloquei meus olhos sob os dele nesse universo. Victor não era o mais inteligente, nem o menos idiota e quiçá o mais engraçado, mas era o mais intenso. Era sempre aquele cara da mesa que te escutava de verdade durante toda a falação avulsa ou soltava umas frases nada a ver só para ver a coisa pegar fogo. Não que o plano dele fosse fazer a gente se sentir especial, mas mesmo sem saber, era essa a sensação que ele despertava. Depois da primeira impressão passar, o resto veio fácil. A tensão sexual que ele carregava consigo roubava-me o ar em todas as vezes em que nos encontrávamos. Era difícil segurar um sorriso ou negar um abraço.

Victor era então o melhor amigo. A promessa do futuro, o sonho que nunca acontecia e a vontade reprimida pela distância. Victor foi tudo que eu precisei, quando eu mais precisei. Emprestou-me colo, ombro, dinheiro, ouvidos e o coração. E só depois de alguns meses comecei a desvendar de verdade quem aquele gigante de um metro e setenta e seis era. Ainda não sei se me apaixonei por conta disso ou se me apaixonei mais por isso. Victor, assim como eu, era confuso e reservado. Mas muito dado também. Sempre muito presente. E embora ele fosse quase uma força da natureza, eu duvido que ele soubesse disso. Se soube, nunca deixou transparecer ou tirou proveito disso da forma correta. Questionou-se muitas vezes e sempre de graça. Sem motivo. Acho que as pessoas fortes sempre tendem a se questionar de maneira mais dura do que as demais. Victor não sabia de toda a força que tinha, e de como era capaz de mudar a vida das pessoas a sua volta. Nunca cansei de dizer que ele era especial. Arrependo-me de não ter dito mais.

Victor não era nada do que eu estava procurando, mas se transformou em tudo o que eu precisava naquela época. Nunca houve uma briga sequer. Nenhum desentendimento, nem má resposta. Nossa pior discussão foi antes do fim, sobre qual filme da saga de Harry Potter era melhor. Até a última vez que chequei ele ainda preferia o Câmara Secreta – o que eu acabei descobrindo que mudou. Agora eu ri feito uma retardada me lembrando de outras mil coisas que a gente discordava, mas isso nunca importou. O bom mesmo era ficar juntos deitado, conversando sobre a vida sem promessas ou expectativa. Só pelo o gosto de estar ali. Só pelo o gosto de ter um ao outro.

E assim como esse texto e todo o meu amor que senti e cultivei ao longo desses anos que se passaram, dedico a ele essas palavras que escrevi com carinho. Só pelo o gosto de escrever, só pelo o gosto de lembrar dele um pouco mais. Victor era uma peça completamente diferente do meu quebra-cabeça usual, que ainda assim se encaixou. A imagem de nós dois saiu borrada no final, mas bonita como os quadros de Monet. Agora virou história, acabou.