A gente se esbarrou em uma loja de livros. Eu estava em dúvida entre levar um romance e um autobiográfico, e ele se aproximou me mostrando um outro livro que, segundo ele, valia mais a pena. Eu dispensei a audácia inicial, e dei brecha. Ele realmente falou bem do livro, mas eu levei o outro – o de romance. Ele não tinha cara de convencido ou conversado, e embora os olhos verdes chamassem atenção, quando eu me despedi ele não foi atrás. Fez um comentário discreto sobre eu não aceitar dicas de estranhos, e se apresentou antes que eu deixasse a loja. O nome dele era Felipe.

Felipe, que eu só fui descobrir a idade e o sobrenome um mês depois quando ironicamente nos encontramos em uma festa de amigos em comum. Eu fiquei conhecida como a garota do romance, apelido esse que ele ainda usa toda vez que me vê. Nossa história, no entanto, passou longe do que eu poderia de chamar de romance. Sinceramente, está mais para conto de terror, misturado com comédia dramática… e tudo bem, talvez tenha tido mesmo um “quê” de romance. Só um “quê”. Ele era inteligente, criativo, bom de lábia e bonito igual a um tiro. Era dedicado e engraçado. Me convenceu a entrar em um relacionamento. Me conquistou a ponto de que eu deixasse ele entrar na minha vida. Foram bons dias, vários capítulos escritos à dois e segredos nossos. Era tão acalentador, ainda mais usando jaleco.

Ele gostava de bons livros, cozinhava bem e lia poesia. Lia mesmo, era fã. Tocava violão, fazia parte de uma militância social e acreditem se quiser, tinha o nome da avó tatuado no peito esquerdo. Ele era a capa e o recheio de uma história clichê de amor, e embora eu odeie clichês, era meio desesperador romper com tudo e seguir em frente. O clichê era bom naquela época. A gente acha que o normal é subestimado, mas na verdade, é bem subestimado. O normal é bom quando traz calma. O normal é o certo, se você tem paz. Ele era um bom garoto, e eu tinha péssimo hábitos. Mas nós nos demos bem..

Viajamos muito, indo e vindo por entre as cidades de Minas e eu conheci os dois irmãos dele. Conheci os avós italianos. Conheci a casa, a vida e a história. Só não conheci a namorada. Nossa história acabou em um sábado de madrugada, quando mais uma vez, ironicamente a gente se encontrou em uma festa de outros amigos que a gente nem sabiam que se conhecia. Ele estava acompanhado e eu surpresa demais para discutir. Deixei a festa com a certeza que embora ele fosse bonito e incrível, era péssimo em romance. Ele até insistiu em um epílogo ou uma mudança de tema, mas eu não quis mais. Não pude. Vire e mexe ele ainda tentar voltar a reler livro antigos, então fiz questão de jogar tudo da nossa história fora. Ficou só esse texto, que mais serve de aviso do que de prólogo, uma vez que todo aquele charme da livraria era um prólogo inspirador, mas falho. A história dele é essa, um alerta discreto se você um dia pegar o livro dele em uma livraria: o nome dele era Felipe, não se esqueça.