Dani era o tipo de cara que conseguia te arrancar um sorriso com vinte segundos de conversa, e embora ele tivesse conseguido me fazer baixar a guarda, – muito armada, devo ressaltar – me convencer a dar o meu telefone foi bem difícil. Você, ao longo da vida, provavelmente vai ver um homem fazendo coisas absurdas, mas nada tão absurdo quanto um cara procurando uma caneta no final de um show. O esforço foi válido, mas em vão. Não havia caneta. Não haviam celulares, e o único que restava, estava descarregado. Ele estava duvidando que eu diria meu nome certo. Eu estava duvidando que ele conseguiria lembrar meu celular até o outro dia. Por fim, só restava meu batom vinte e quatro hora com cor de rosa madura. Eu escrevi o número no braço dele, e fui embora.

No outro dia, ele apareceu.

Dani, assim como tantos outros Dani que você vai conhecer ou já conhece, tinha um coração enorme. Era bicho solto, leve, tocava a vida com a certeza de que estava no caminho certo e durante os meses em que nossa história se cruzou eu nunca vi ele perder a cabeça. Ele nunca saiu do sério, nunca se irritou. Logo eu, que era conhecida como um cão chupando manga provavelmente estava mais para um poddle bem fofo nas mãos dele. É claro que, provavelmente eu devo ter sido o pior tipo de furacão que passou pelo o cais dele, e devo ter bagunçado tantas certezas por lá quanto ele bagunçou por aqui. Contrariando o que eu esperava para aquele momento na minha vida, ele foi como respirar de novo. Aquela brisa geladinha, no fim de tarde, que te faz lembrar que a noite não é o fim do dia, mas o começo do dia que já vem. E que as coisas iam sempre melhorar, que sempre haveria alguém para te provar que dias ruins existem, que pessoas ruins existem, mas os bons são maioria.

E que bom que Dani era a maioria. Maioria rara, devo ressaltar. Não me bati com alguém com toda aquela tranquilidade e amor nas coisas que faz, mas levei as manias dele comigo. Levei o gosto musical, o gosto pela cachaça e as lembranças de dias tão bons para se lembrar durante uma terça-feira corrida. As vezes me pergunto se para ele o nosso tempo foi bom, e se seria digno de lembranças. Eu parti tão rápido em uma sexta-feira fria, que nem me arrisquei olhar para trás para não voltar atrás. Sempre achei que ele merecia algo melhor. Me arrependo de não ter dito mais isso a ele, ou então, simplesmente ter dito todo o restante. Ter dito sobre o sorriso, sobre as manias, sobre os planos que não chegamos a concretizas ou simplesmente sobre o silêncio. Eu sempre gostei do silêncio com ele.

Dani me ensinou a ser cuidadosa com as coisas, a pedir licença para entrar, e para sair também. E acima de tudo, ensinou – essa parte eu ainda tento trabalhar constantemente, odeio não ter controle das coisas – que existem anjos perdidos pela vida, e as vezes eles ficam e as vezes não. Mas eles não deixam de ser nossos anjos por isso. Resolvi não deixar de ser também.