Carlos era extremamente parecido comigo. De todos os tipos de homens que eu poderia querer ou escolher, ele era o tipo que me assombrava e me excitava ao mesmo tempo. Carlos era inteligente, independente, divertido, convencido e bom de lábia. Sabia como levar qualquer conversa simplesmente com aquele sorriso de vendedor de loja de eletrodomésticos.

Demorou para eu me dar conta disso. Para eu me dar conta de porque Carlos me instigava tanto ou me confundia. Carlos era como eu; uma nuvem confusa e convidativa que sempre me fazia questionar como, por onde, qual ou quando. Carlos era daquele tipo de pessoa que é pau pra toda obra. O melhor amigo que você vai arrumar pra curtir uma balada trash, o cara que vai te levar pra comer panquecas de espinafre em uma barraquinha naquele bairro abastado e o colega que vai te abraçar quando você passar naquela matéria tão sofrida, só pra poder ter a chance de encostar em você.

Carlos é daquele tipo de oportunista. Eu poderia dizer que assim como tantos homens que vemos por ai, ele não presta e só pensa em uma coisa: espalhar seu DNA pelo o máximo de território que conseguir. No entanto, menino Carlos é apenas um daqueles meninos sem-vergonha de bom coração, que foi criado por uma mãe amorosa e mesmo que não pareça, tem muito respeito e carinho por cada mulher que cruze o caminho dele. E quem cruzou o caminho dele fui eu. Cheia de planos, confusa, querendo o mundo na minha mão e ainda gastando horas dançando no quintal da minha casa pensando na vida. Carlos é daqueles que joga vinte um com você, te leva para beber, te busca na ferroviária, leva para comer pizza, te escuta falando do ex-namorado, dá conselho, ouve seus problemas, resolve seus problemas, te leva na rodoviária, joga qualquer jogo de baralho que exista e te dá dicas de cozinha. Carlos joga war com você, bêbado, enquanto usa uma máscara de tartaruga ninja. Esse é o Carlos que eu conheci.

No entanto, imagino que seja totalmente distinto do Carlos que você vai conhecer ou já conheceu. Diferente daquele menino indiferente, mulherengo ou então, tão tranquilo feito uma nuvem em um dia de sol. Talvez o seu Carlos seja só um amigo, só uma transa. Seja só um colega de faculdade, um amigo de academia, um carinha do seu curso de Francês, mas o meu Carlos é uma história. Mistério, drama, terror, aventura, não um romance russo. É um livro de auto-ajuda, de auto-desenvolvimento, auto-transformação. Ele é uma literatura complicada, precisa ter paciência para ler e entender. Tem que ser fã de linguística, de história e Tony Robbins. De resto, não sei mais o que dizer de Carlos. Ele é uma história, e ela está sempre em movimento.