Era alguma quinta-feira, eu acho. Tinha uma solenidade na faculdade, ele era o apresentador. A gente nunca tinha trocado nem duas palavras além do cordial boa noite, mas eu sabia que ele era um cara bacana. Gente bacana tem opinião bacana, humor bacana. E ele ainda torcia para um time bacana. De fato, ele era um cara interessante. A gente só nunca tinha conversado. Até aquele dia. Era quinta-feira, eu tenho certeza.

Ele cruzou meu caminho, enquanto eu estava pensando em assuntos interessantes para escrever, e eu não pude deixar de comentar a performance dele na apresentação. De quebra, ele era engraçado. E diferente do que eu esperava, ele parou, se sentou e começou a conversar comigo. Viramos amigos ali. Não colegas, não conhecidos; amigos. Ele me confidenciou coisas que eu tive que olhar para os lados para ter certeza que ele tava consciente de que era para mim que ele tava falando. Eu chorei tantas pitangas com ele que me pergunto se ele não fez uma lista de nomes com os casos que eu contei. Casos absurdos. Histórias complicadas. Encontro frustrados.

Nos esbarrávamos numa facilidade incomum, que eu cheguei a questionar o destino se não era algum plano disfarçado de acaso. Conversávamos sempre, fazíamos planos incríveis com ideias fantásticas – mas que não saíram do papel, ainda – e saímos para beber. Diferente do que se espera de um encontro, não estávamos nervosos e nem nos questionando onde aquilo iria parar. Era um momento ímpar em tudo que tínhamos conversado e dividido até ali. Ele pediu para morder minhas tatuagens. Eu dei nome as bolas de sinuca da mesa, cada ex-namorada dele tinha uma cor. Nos divertimos mais do que o comum, e a noite acabou com uma chuva fininha e batatas fritas. A simplicidade sempre esteve presente quando se tratava de nós, mas naquele dia, eu tive certeza que nada além de uma companhia, uma boa história e motivos para voltar importam.

Tivemos outros momentos, é claro. Ele me ouviu contar a mesma história com personagens diferentes milhares de vezes. Eu tentei alertar ele sobre erros, outras mil. Vencemos batalhas, ganhamos textos, livros, dedicatórias que nunca foram escritas e a sensação de que nem sempre é necessário força para construir algo bonito e forte. Às vezes, você só precisa de uma desculpa para puxar uma conversa e tempo. Tempo, que atualmente é o que menos temos para oferecer, mas o que mais gostamos de dividir.