Já são onze horas da noite desse sábado gelado. A chuva está caindo barulhenta lá fora, me fazendo sentir que eu estaria mais feliz nos teus braços do que sozinha em casa com meu moletom desbotado e velho, mas é o que tem para hoje. Ele é mais familiar, mas você é mais confortável. Eu poderia ligar e te dizer isso. Eu poderia assumir, mas eu não vou.

Eu não vou dizer que penso em você ou que teu rosto me vem a cabeça de madrugada, no meio de uma tarde corrida ou quando eu escuto alguém dizer teu nome. Não vou entrar no teu jogo e te dizer as verdades que me chegam a boca, mas nunca alcançam teus ouvidos. Quando penso em você, penso sim nos beijos, nos abraços e no teu cheiro. Teu braço nas minhas costas, me puxando pra perto, me apertando, me querendo sempre colada a você. Seu coração descompassado, e o seu suspiro lento e doloroso só porque eu não vou ficar. Você sempre me diz “fica”, e eu quero ficar, mas nunca assumo. Eu me afasto de você. Eu volto ao meu lugar, eu fico distante e você grita “volta”, “não fica longe”. E eu não quero ficar longe, e eu nunca fico também. A gente se entende até no silêncio das palavras não ditas. Nos olhares e sorrisos, enquanto a gente finge que está rindo de algo, mas na verdade está praguejando a maldita distância. Distância física e sentimental. Distância carnal. A distância de dois corpos, duas mente, e uma vontade: a de sentir.

A chuva ainda cai lá fora, e eu só consigo pensar em quanto tempo a gente tá desperdiçando estando longe um do outro. Quando tempo a gente desperdiça fingindo que pode conversar normalmente. Você pergunta como foi meu dia, e eu respondo perguntando como é que está a sua vida. Nenhum dos dois assume, afinal. A falta atormenta, a saudade maltrata, e a loucura desesperada por um reencontro condena. Nós seguimos buscando um novo abraço, um novo momento, algo a se apegar. Eu sou tão sua quanto a chuva das nuvens, e você é tão meu quanto o sol é do céu. Tremendamente necessário e encantador, mas volúvel. Nunca vou saber se você sente, e você nunca vai saber o que eu penso. No final do dia, no entanto, nós sempre terminamos do mesmo modo: um do lado do outro, sorrindo, chegando mais perto. Porque a gente sempre acaba junto. Seja bêbados ou não. Seja carentes ou não. Não me importam os meios, o fim sempre vai ser nós dois.