O amor sempre deixa rastro; um caminho de volta, um mapa perdido, aquela sensação de que aquele sempre vai ser o seu lugar. Você sempre voltou. Sempre volta. Passa outono, inverno, primavera e verão, e não importa quantas estrelas estejam no céu ou se a temperatura aumentou dois graus, você sempre volta. Você sempre acha um jeito de vir me ver e dizer que sente falta, e que não importa as escolhas que eu faça, e o quanto isso me afaste de você, você sempre vai voltar. Porque eu sou seu porto seguro. Eu sou a tua certeza.

Você sempre volta com aquela cara deslavada de cachorro sem dono, com as mãos no bolso, dizendo “a sua saudade me mata cada dia mais”. Você sorri do mesmo jeito e sempre me pede uma chance, e eu digo que não. Mas você insiste, e repete “eu sempre vou voltar”. E por mais mal que você tenha me feito, e por mais raiva que eu sinta ao te olhar, você sempre volta. Você sempre cumpre a sua palavra, sempre estende a mão, oferece colo e cuida de mim. Você acena de longe em meio a uma tragédia e se faz presente, mesmo sem estar. Mesmo que eu escolha outro cara, mesmo que eu prefira outra boca. Porque você sempre volta para o seu porto seguro, e o seu porto seguro sou eu.

No entanto, você é a minha maré alta, a maré brava. Aquela que afoga, castiga. Que sempre estremece o farol e causa tumulto. Você me faz sentir pavor. Você me acalma me deixando nervosa, e isso não é normal. E eu aprendi que o que não é normal nessas questões amorosas, às vezes faz mal. E você faz mal. Mesmo sorrindo como um anjo, mesmo me amando. Porque você tinha tudo para ser o cretino da história, mas mesmo assim você insiste em fazer as coisas darem certo. Porque você sempre volta. É como você sempre me diz “nosso amor deixa rastro”. Infelizmente, a dor que você causou também.