O amor é outra coisa. Percebi isso enquanto te ajudava a guardar os livros novos na estante da sala. Te observar martelar os pregos, lixas as tábuas escuras e se dedicar de verdade a transformar tudo aquilo em uma estante linda me encheu o peito de um calor gostoso, e me roubou um sorriso discreto. Até pensei que seria boa ideia entregar meu coração a você, sabia?

Já pensou em que filhos lindos teríamos? Você com esse gene incrível do combo altura-barba-inteligência e olhos intensos. Seu gosto musical, sua percepção de mundo e ótimo café me fazem pensar que faríamos uma revolução. Daríamos mesmo certo. Seriamos o tipo de casal que se equilibra entre razão e emoção, nos motivando e nos fazendo rir a cada ideia absurda ou tristeza repentina que nossas famílias insistissem em infligir em nós. Meu Deus do céu, como seria arrebatador nossas viagens, as discussões caladas com um beijo sôfrego depois que desopilássemos os rins aos berros.

Claro que como tudo na vida, também haveria a parte chata. Você tem esse marte em áries que chega chutando porta e eu tenho a sobriedade do marte em virgem que não age sem se programar. Eu ficaria abafada, e você irritado. Você criticaria meu modo de dirigir e eu a sua mente esquecida. Você sentiria ciúmes e eu fingiria não estar nem ai.Eu sentiria ciúmes e você morreria de rir de mim e dos meus acessos momentâneos. Morreríamos de rir, com certeza. E seria incrível, presumo. Da mesma forma que foi te observar fazer essa estante, como foi te ver pintar as paredes e fazer o fogão e tudo mais que você se propõe a fazer.

Seria lindo, intenso, entregue, intrépido. Quase penso que poderia ser amor... esse amor que eles dizem por aí, que a gente sempre lê ou escuta alguém contar. Mas querido... o amor é outra coisa. Acho que o que sinto agora por você vai além.