Dizem que só se conhece uma pessoa de verdade quando não a reconhece mais. Será? Isso não sai da minha cabeça desde que te encontrei naquele bar. Apesar de tudo que vivemos e escolhemos, e sentimos, e brigamos, e amamos.. nós não nos reconhecemos. E não falo de passarmos diretos um pelo o outro, é claro que não. Eu te reconheceria há metros, e eu sei que você poderia sentir meu cheiro também. Nós nos cumprimentamos, você me abraçou. Sua mão espalmada nas minhas costas, enquanto eu beijava seu rosto. Foi a mesma cena de tantas outras vezes, mas nós não nos reconhecemos. Não mais.

Quando te encontrei na festa, não foi a familiaridade que me invadiu e sim a indiferença, mesmo sendo teu cheiro igual. Mesmo que eu tenha sorrido como sorri tantas outras vezes para você. Te olhando a distância - depois que me afastei - com o copo não mão, me lembrei das inúmeras vezes que saímos e dançamos por aí. De como nos agarrávamos, bêbados, nos corredores dos bares ou dentro do seu carro. Tantas madrugadas foram nossas e de nossas risadas apaixonadas e te olhando agora, não te reconheço mais. Como chegamos até aqui?

Sua barba ainda é a mesma, o mesmo estilo de sempre, mas acho que a ponte entre nós se rompeu. Sutilmente devo admitir. Eu nem percebi que nós nos deixávamos ao longo do tempo, que agora parece tão natural, tão simples. Você ainda invade minha mente de vez em quando, me fazendo considerar como seria estar ao teu lado agora. Como viveríamos juntos sendo quem somos depois de tudo que passamos. Ainda nos daríamos bem? Você ainda escutaria Bon Jovi? Brigaríamos pela política? Teria você aprendido a fazer café? Tantas dúvidas... eu costumava ter todas as respostas para essas perguntas, hoje eu já nem sei quais são as perguntas ou como fazê-las. Não te reconheço mais.

Não que eu pensasse em voltar para nossa história, é só que agora, olhando você a distância, percebo que não há pra onde voltar. Nós não nos conhecemos mais, mesmo que eu ainda sorria para você, mesmo que você ainda se lembre de mim.