Semana passada a tia da prima da minha amiga estava dizendo em um chá de bebê da prima dessa minha amiga, que estava chatiadíssima – e ela mesmo usou essa palavra – que sua filha tinha optado pelo o curso de Jornalismo. Ciências humanas. Ela estava chatiadíssima, deixe-me repetir.

Me peguei pensando naquele momento, enquanto a tal mulher se dizia orgulhosa de todas as vitórias da filha, e quando ela menos esperava, a filha resolve mudar seu caminho. Era medicina. Era direito. Era engenharia. Arquitetura. Mas psicologia, jornalismo e publicidade, não. Não pode ser. Ela queria ser de humanas, estudas as pessoas, conviver com gente e trabalhar no ali e agora trocando experiências. Isso era inadmissível. Ela perguntou, depois de algumas voltas no assunto, quem era feliz fazendo algum curso de humanas. Quem diabos tinha um futuro seguindo com algum curso de humanas. Como já era de se esperar, eu não pude ficar calada. Levantei a mão, sorrindo para ela. Todo mundo ficou surpresa.

É tão fácil amar nossos filhos quando eles seguem absolutamente tudo o que planejamos para eles em nosso íntimo. É tão fácil amar nossos filhos imaginando que eles são extensão de nós mesmo, imaginando que eles precisam, de alguma forma, suprir nossas expectativas. Pais orgulhosos dizem por aí que criaram seus filhos para serem inteligentes, independentes e que defendam seu ponto de vista com fervor. Ironicamente, quando um filho escolheu caminho, seja ele do agrado dos pais ou não, ele está simplesmente sendo a pessoa que ele foi criado para ser.

Minha declaração pareceu ter pegado ela de surpresa, e ela ficou calada por alguns segundos. Não que eu achasse que brigaríamos ou discutiríamos por nada, mas para a minha surpresa, ela sorriu. Claramente foi como ela ter caído em si. Eu não me desculparia por ser de humanas, e sinceramente, não acho que ninguém deva. Foi ela que se desculpou, disse que eu estava certo e que sua filha, era exatamente que ela criou para ser. Inteligente, divertida, dedicada e comunicativa. Essa situação mesmo parecendo um embate comum, me fez refletir sobre tudo que as pessoas passam durante suas vidas enquanto escolhem o que querem fazer. Não se trata de lidar com as expectativas alheias, se trata de lidar com as próprias expectativas. Ser quem somos, e seguirmos nosso caminho. Sempre. Não se desculpe por suas escolhas. Acredite nelas.