Há uma década todo mundo queria alguém para chamar de seu. Ter um namorado ou namorada era algo que dava orgulho. Todo mundo que tinha alguém ao seu lado parecia estar num patamar acima na escala social da vida. Te confesso até que, por muito tempo, essa coisa toda me incomodou e me fez procurar como uma desesperada alguém, qualquer um, que eu pudesse chamar de meu. No entanto, menos de dez anos depois, essa necessidade de ter uma companheira ou um companheiro passou a ser vista por uma ótica muito negativa. A geração do desapego surgiu e, junto com ela, a repulsa pela oportunidade de conhecer alguém e estar totalmente disponível para construir um relacionamento. Hoje, parece que apego é sinal de gente trouxa. Gente fraca. Vocês ouvirão muitas coisas ao longo da vida e talvez devam até acreditar em algumas delas, mas por favor, não se deixem convencer de que afeto é coisa de gente trouxa.

Gosta quem é de verdade. Sente quem tem coração e coragem. Afeto não é coisa de trouxa, joguinho de desinteresse é. Vazio e ações calculadas, são. Você pode sim ser uma pessoa que não vê nos relacionamentos amorosos uma prioridade. Você pode sim estar feliz e satisfeita sozinha ou sozinho. É possível até que você seja uma daquelas pessoas que não gosta de dividir a pizza e prefere passar o final de semana sozinha no sofá, curtindo sua própria independência e paz. Talvez. Mas, por favor, não deixe ninguém te convencer de que resolver dividir sua pizza e seu sofá com alguém vai te fazer fraca ou digna de piadinhas alheias e olhares agressivos. Os relacionamentos amorosos tiveram sua fundação minada ao longo dos anos. Os jovens e os desiludidos banalizaram tudo: as relações, a confiança, o sexo e a amizade. Tudo que era de verdade, agora parece errado. E nada me parece mais cruel ou sem noção do que isso.

Só quero que vocês parem pra pensar. O que há de errado em gostar de alguém? Em dizer que quer? Em dizer que se importa? Não é este um dos sentidos da vida? Conhecer alguém e poder dividir momentos inesquecíveis? Sentimentos únicos e vontades malucas? Refiro-me não apenas aos relacionamentos amorosos, mais também aos relacionamentos entre amigos. Por que confiar em alguém é tão aterrorizante? Por aqui, dentro do meu coração e da minha mente agitada, a desconstrução é diária. Tento sempre me lembrar que sentir é necessário, que me importar é normal e que é bom sim ter alguém a quem dizer que amo. Tento manter em mente que ter com quem ficar faz diferença. É claro, devemos balancear as equações. Baú aberto não esconde tesouro, mas se você não falar, se você não sentir, nunca vai saber de verdade as maravilhas de um relacionamento à dois que você tanto vê mal divulgado por aí. Eu garanto, ainda há motivos para achar que o amor é incrível.

Acredite, criança. Afeto não é coisa de trouxa, trouxa é quem não sabe amar.