Quem nunca encheu a cara e resolveu pagar de bem-resolvido com amores passados, que atire a primeira pedra. Aposto que todo mundo aqui já chorou as pitangas com o garçom do bar. Com o barman, ou até mesmo, com alguém que conheceu na mesma noite e estava disposto a te ouvir ou na mesma situação que você. Atire a primeira pedra quem nunca cuspiu pra cima e caiu na testa. Quem disse que não queria mais, e voltou a reler velhos livros e relembrar histórias passadas. Atira a primeira pedra quem não ofendeu quem já partiu e chorou, culpando-se pelos os erros dolorosos. Na real todo mundo é um pouco Bukowski; basta encher o copo de álcool e esperar a saudade chegar.
Existem diversas fases para completar essa transformação em Bukowski. Primeiro você tem que viver, se apaixonar, se envolver e aceitar que apesar do amor ser um tiro no escuro, ele existe e sempre acerta alguém. É necessário assumir que se quer, mas que ainda assim é complicado e envolvente. Que tudo é um pouco perturbador e mágico. É necessário observar o fogo alheio, e se encantar. Em segundo, você aguenta a sorte da dar certo ou não. Se der, escreva sobre as escolhas certas e poderosas. Se der errado, escreva sobre os erros e as partidas. Escreva sempre, em qualquer situação. Escreva sóbrio, escreva bêbado. Escreva sobre ter que escrever. Respeite as palavras, as julgue, as condene e as ame. Não rompa com elas. As pessoas sempre partirão, as palavras não.
Depois, em terceiro, relembre tudo. Crie histórias, enredos interessantes e personagens amáveis mas que ferem. Cuspa suas limitações, se rasgue em simplicidade e amor e assuma: o amor é um cão dos diabos. E que é preciso ser mais do que bom escritor ou doce leitor. O amor exige coragem, e nem sempre quem escreve ou se esconde atrás de bebidas é tão corajoso assim, uma vez que as palavras só são gritos de liberdade ao serem proferidas e não escritas. Ser Bukowski é entender que nem sempre seremos heróis de nossas próprias escolhas e histórias. É saber que podemos nos afundar em nós mesmos, mas ainda assim com poesia e maestria. Ser Bukowski é assumir que se ferrou mesmo, que bateu com a cara no muro mas que não vai parar porque está doendo ou está feio. Ser Bukowski é assumir que vai negar mas depois vai confessar, porque a gente sempre soube desde o começo, que amor de verdade.. é tudo aquilo que dissemos que não era. Mas era amor o tempo todo.