Minha mãe sempre me disse que eu acabaria parecendo um jornal com tantas palavras e pequenos desenhos perdidos por entre minha pele, e eu adorava essa ideia. A possibilidade de me marcar com tudo que me fosse importante me fazia pipocar de tanta criatividade e vontade. No entanto, nem todo mundo gosta de pequenas marcas feitas à tinta. Não que eu me importe com eles, mas preciso ressaltar que minhas tatuagens não são apenas rabiscos, elas realmente contam história – a minha história.

Quem me conhece de perto sabe dos pequenos detalhes que envolvem todas elas, e mais ainda como todas tem ligação com momentos importantes da minha vida. A âncora na costela foi a primeira de todas – eu fiz depois de um longo momento tempestivo que me fez refletir sobre minhas escolhas até ali. Em seguida, a frase na cintura; como um aviso a mim mesma de que tudo que é raro merece e é feito para o raro. Era preciso ter discernimento e maturidade para entender isso e aceitar. E praticar. Praticar era o mais difícil.

Alguns meses depois, eu fiz mais quatro. Às palavras nos braços, como um mantra.. ser e sentir. Ser de verdade, sentir para atrair a verdade. Uma cruz no bíceps para me lembrar que a fé não tem nome e nem caminho definido, ela apenas é. Você precisa acreditar em algo, mesmo que seja acreditar que não acredita realmente em nada. Por fim, a frase na costela; haja o que houver, só aja se quiser. Outro mantra e também um alerta; eu deveria ser fiel apenas as minhas vontades, e nunca, jamais me curvar perante o outro em função de medo ou no sentimento de uma obrigação cruel.

Passei mais de um ano matutando ideias e amadurecendo possibilidades, até que ela floresceu – a minha rosa. Feita para mim, desenhada com carinho e pintada na minha pele para eu nunca esquecer de ser jardim de bons sentimentos, e mais ainda, não esperar flores alheia, afinal eu mesma tinha me dado uma de presenta para a vida toda. Uma outra palavra no antebraço também marcou esse dia; namastê. O deus que habita em mim saúda o deus que habita em você. Respeito, generosidade, amor e compreensão. Compaixão pelo o outro. Fiz essa com minha irmã e minha mãe.

Por fim, às últimas foram cinco palavras perdidas pelo o meu corpo como um caminho marcado com pão. Calma e alma em cada uma das mãos para não me esquecer disso.. e calma eu fiz do lado esquerdo, como fiz com ser – alma ficou no lado direito com sentir. Seja a calma, sinta a sua alma. Outro mantra. Desenhei em traços finos a palavra inefável em cima do coração. Nas costas, amor e verdade. E por mais que eu esteja mais para um dicionário com palavras individuais e perdidas, eu ainda prefiro ser considerada um jornal. Apesar de distintas.. as palavras formam uma explicação única. Inefável é algo que não pode ser explicado por palavras. A calma e a alma são inefáveis, mas com amor e verdade, você consegue enxergar e viver. Basta apenas ser e sentir – o resto floresce por conta própria.