Nunca pensei que o tempo fosse se tornar algo que me assombraria. Nunca pensei que eu realmente me importaria com a soma dos dias e dos meses, mas hoje sei que me importo. E, amor, preciso te confessar que eu sempre te quis, mas nunca te disse nada. Como um menino que sou, guardei para mim minhas palavras e sentimentos.

Nunca pensei que seria levado na conversa pelo o monstro do orgulho, e que ao fazer aquela escolha errada, eu perderia você e todas as oportunidades de construirmos lembranças de momentos tão nossos. Sempre achei que teríamos tempo. Sempre achei que eu poderia voltar depois de assumir para mim mesmo que seria impossível ser feliz com outra mulher do mesmo modo que fui com você. Eu sabia que um dia essa verdade seria tão forte que eu não conseguiria beijar outra, se não você. Eu sabia que um dia nossos amigos ririam do tempo que nós ficamos separados, insistindo em acreditar que não fomos feitos um para o outro. Eu assumiria, com prazer e tranquilidade, a culpa de ter te mantido tanto tempo longe e pagaria, ao longo dos inúmeros anos juntos, todas as dívidas e mágoas que contraí nesse tempo contigo e esse teu coração maroto.

A verdade, amor, é que eu estava inseguro durante toda a minha vida, e quando você apareceu, eu fiquei ainda mais. Fiquei inseguro por você ser tão segura de si mesma, por conseguir sorrir sozinha, fazer suas coisas e terminar seu dia satisfeita sem que eu precisasse te ligar ou não. Você sempre me quis do teu lado, mas não precisava de mim para viver. E isso me assustava, me assustava e me encantava. E na medida em que os dias iam passando, e eu me apaixonava por cada detalhe seu, eu também me afastava. Já imaginou como seria amar várias pessoas? Era assim que eu me sentia com você. Te amar, era amar todas em você e você, em também todas as outras que vieram depois que nós terminamos.

Não me importa agora, porque acabou. Desconfio até, que nunca fez uma real diferença. A distância de você me mantinha seguro das loucuras de viver ao teu lado, mas me fazia infeliz. Passei a sentir falta do seu cheiro, das suas manias, do seu par de pantufas e de como você sempre lavava o milho verde que vinha dentro da lata porque dizia que tinha sódio demais. Eu senti falta das suas loucuras em cima das mesas de bar, de como adorava beber tequila e de como dava em cima de todo mundo da festa quando ficava bêbada. Sentia falta do seu ciúmes silencioso, do modo como cruzava as pernas e de como eu conseguia entender cada olhar teu. E te atender. Senti falta dos nossos beijos, de quando caímos na cama para gastarmos horas transando, e daquele momento depois. Senti falta do nosso silêncio, que tanto gritou várias coisas e nunca ouvimos. Ou melhor, eu não ouvi.

Ao longo desse tempo que estamos separados, você ainda continua inabalável. Linda, independente, tranquila. Mas sei que chora de vez em quando, sei que sente minha falta. Mas você não precisa de mim para viver, então você não sofre. Te conhecendo tão bem, sei que você pensa em mim quando escuta nossa música ou quando alguém faz alguma piada sobre pizzas – eu sempre fazia piadas sobre pizzas. Sei que você sente seu coração apertar quando alguém entra na sala falando meu nome, ou então, quando alguém te questiona porque acabou. Sei que você pensa em mim de vez em quando, do mesmo modo que eu penso em você, de vez em sempre. No entanto, você não carrega a culpa de não ter dito o que sentia. De não ter feito o que queria. De não ter lutado por quem amava. Eu sempre te quis, mas nunca te disse.

Espero que você possa me perdoar por isso, e me permitir te fazer sorrir pelo o resto da vida, como recompensa da minha molecagem imbecil. O medo cega as pessoas, amor, nos paralisa. E só teu sorriso consegue mudar isso. Espero que no momento em que eu acordar na futura manhã sombria e cinza e sentir que só teu gosto me satisfaz, você possa me acolher. Que você possa me envolver em seus braços como quem sempre sabe o que fazer, porque você sempre sabe. Espero que você ainda sorria quando pensar mim. Sempre sorrio quando penso em você. Me desculpe por sempre ter amado você, e nunca ter dito nada.