É como simetria. Tudo em você se encaixa, faz sentido, se acende. Tudo em você brilha.
E dos inúmeros detalhes que compõem a obra de você, o mais especial se fecha toda vez que você se entrega a um sorriso ou gargalhada. O mais bonito traço do teu rosto, se curva quando você se rende. Brilha quando você gosta, e se entrega quando você descansa. Não se trata da cor ou da pintura esparramada em tela que parecem ter inspirado teus olhos, mas sim da margarida marrom que insiste em aparecer toda vez que eu olho você. Não uma rosa. Não uma tulipa. Não um cravo, uma margarida. Uma flor tão frágil que tem o nome vindo do latim, que significa pérola. Coisa rara.
Já te contaram a história das pérolas? Quando um mínimo grão de areia adentra a ostra, esta se sente agredida. É como um invasor, um corpo estranho invadindo seu espaço. E, quando esse corpo estranho está no interior da ostra, o manto do animal envolve essa partícula em uma camada de células epidérmicas que produzem sobre ela várias camadas de nácar, originando a pérola. Demora anos até a pérola chegar a ser o que conhecemos por aí. Anos de preparação para a beleza que vemos. Cada detalhe perfeito que compõe as suas margaridas marrons. Margaridas que há muito eram conhecidas como a flor do bem me quer, mal me quer.
Despedaçar cada pétala nesse ritual inofensivo nunca pareceu tão absurdo quanto agora. Despedaçar flor tão linda, pérola tão rara, detalhe tão místico. Me pergunto então, se haveria outra coisa a fazer com as margaridas. Admirá-las parece ser a melhor e mais racional opção, mas coitada de mim, que assim como as inúmeras margaridas despedaçadas, se rasga por dentro de vontade de mais. Admirar não basta. Não me basta.
Então proponho agora, que todas as vezes em que seus olhos se fecharem e as margaridas desaparecem, lá estarão meus beijos doces sob a pele que me separa desse detalhe tão lindo de você.