Pode imaginar musiquinha de fundo se isso te faz sentir melhor, pode até me imaginar dançando. Depois de tanto tempo nesse roteiro eu posso dizer com certeza de que não me incomodo com sua cara de descaso, ou mania irritante de tentar sorrir enquanto coloca panos quentes em cima da nossa relação. A gente sabe melhor que ninguém que não se tem muito para onde correr, e que embora tentemos, não conseguimos romper deliberadamente com o que construímos ao longo desses meses vazios que se passaram. Você se atou a mim de maneira intensa, e eu me agarrei em você de forma real. Parece até roteiro batido de filme de fim de tarde, mas a situação é mais realista do que gostaríamos e mesmo que eu seja muito otimista, não vejo propensão de melhora. Nos dois não achamos que duraríamos tanto tempo, mas veja só até onde nos arrastamos. E embora seja incrível o tempo que passamos juntos, todo o tempo além dos momentos à dois só me faz pensar que foi uma péssima ideia. E que você é um covarde, e eu uma sem noção. Com certeza eu sou uma sem noção.

A gente segue mentindo e se arrastando como pode: eu finjo que não percebo e você evita o óbvio. Qualquer conversa sobre amenidades parece mais um grito desesperado sob uma ótica de “gosto de você, mas não o suficiente”. E teríamos até justificativas decentes; eu estou de mudança, você trabalha demais, existem outras pessoas, nossos amigos não nos suportam juntos.. é tanto conectivo de adversidade que me faz pensar realmente “onde é que a gente tava com a cabeça quando achou que era uma boa ideia?”. A cabeça eu não sei… mas o pensamento estava mais focado no que tínhamos a oferecer naquele momento, do que no depois. Porque o depois nunca existe, não é? Era o que eu sempre dizia para você; eu só quero sua verdade, só quero que esteja aqui de verdade pelo o tempo que puder. E hoje, eu percebo que foi tudo uma péssima escolha de frase, uma vez que isso te deu liberdade para ir e voltar e me deu a falsa sensação de ser um porto seguro no meio do mar. Mas não existe mar, nem cais, nem calma. Não existe retorno. Não existe nada.

E embora eu possa fazer valer todos os outros textos que eu escrevi aqui sobre acabar com ciclos viciosos, com relacionamentos falidos e o regresso a problemas-casa, eu não me vejo tomando atitude alguma para romper com nada, porque não há com o que romper. Não há a quem deixar. Não existe nem alguém para se voltar. Nunca deixamos quem tivemos e nem ficamos, de fato, onde escolhemos. O texto é só mais uma desculpa para ressaltar que apesar de bons e incríveis, somos consequentemente péssimos em escolhas, e quem diria.. covardes também. Você não confessa, eu não entrego, e seguimos atuando da melhor forma possível, enquanto você coloca panos quentes sobre essa situação e eu faço textos com palavras que nunca poderão ser ditas além da minha mente. Como eu disse, não há o que dizer a você e eu nunca me preocupei realmente em dizer, menos hoje. Hoje eu decidi que quero jogar isso tudo bem na sua cara. Lide com isso.