Do mesmo modo que só um motivo me bastou para ir, sei que outros noventa existem para me fazer ficar. No entanto, eu assumo, estou indo embora. Diferente de todas as outras vezes em que deixei algo e segui em frente, dessa vez eu jurei para mim mesma que não olharia para trás. Gostaria de dizer que te amo, mas estou indo embora. Desisti de me apegar as nossas lembranças, ao barulho tranquilo da sua respiração e ao fato de que mesmo depois de tantos anos, ainda não consigo encontrar alguém cujo dedos se encaixam perfeitamente com os meus no entrelaçar de mãos. Prometi a minha mesma que não tornaria a te ligar, não olharia nossas fotos e, nem que custasse minha sanidade, não ouviria mais sua voz.

Era libertador e desesperador ao mesmo tempo. Gostaria tanto de dizer que te amo, mas estou indo embora.

Desapeguei-me das nossas semelhanças, das coisas que me lembravam você e da mania irritante que eu tinha de rir toda vez que alguém contava aquela piada sobre garrafas PET, já que você contava. Decidi esquecer nossas músicas, nossas discussões tão nossas e as histórias que eu escrevi pensando em nós dois. Jurei pela vida do meu gato que eu não entraria nos lugares procurando você. Que não perguntaria de ti para os teus amigos, e que mesmo se ainda assim alguém tocasse no teu nome, meu coração não dispararia feito relógio descompassado. A verdade, amor, é que eu escolhi romper com nossa saudade e te deixar, como você tem feito durante esses últimos anos.

Ainda gostaria de dizer que te amo, mas estou indo embora.

Seu descaso me machucou tanto e de uma forma tão densa que foi difícil demais romper com nosso passado. Romper com essa dor que era a única coisa que ainda me ligava a você. Meus olhos custaram a se abrir, meu peito custou a voltar a respirar. Meu coração, coitado, insiste em te amar. Mas não vou dizer que te amo, amor. Eu estou indo embora.