Semana que vem vai fazer três anos. Não me lembro do momento exato em que resolvi bater a porta para nunca mais, mas o caminho marcado com pão e tuas asneiras me fizeram convicta e decidida quando resolvi deixá-lo. Você não se lembra dos motivos, como mesmo insistiu em repetir, e eu não me lembro do nosso tempo bom, como eu mesma fiz questão de ressaltar. Não importa, à essa altura, o que foi que me motivou ou não a te deixar, o que realmente merece nossa atenção é que não houve nada que me fizesse pensar em ficar. Foi aí que eu parti, de fato, antes mesmo de ter pegado a bolsa caída no chão e juntado minhas roupas para sair.

Nossa troca tinha sido interessante como um romance adolescente e encantado, mas deliberadamente iludido e raso demais para alguém que gostava de ler literatura pesada. Tentei não soar perfeccionista e preocupada com as métricas, momentos e conversas, mas nosso barco sempre parecia remar contra a correnteza mas sem sair do lugar. Poderia ter um pouco de aventura, mas era igualmente cansativo e eu já estava enjoada da vista. Queria me jogar da água e você não sabia nada. Tive que seguir sozinha, como todo mundo percebeu um tempo depois. Foi no segundo em que nossos planos se chocaram pela diferença de pés e preferências que eu resolvi desistir. Foi nesse momento em que eu parti.

Já faz tanto tempo desde o nosso tempo que talvez o texto não seja nem de longe necessário como as palavras foram inúmeras vezes em outros casos que eu vivi, no entanto, precisava exaltar que o momento da partida ocorreu muito antes do momento em que terminei com nós dois. Você talvez nem tenha percebido os detalhes, eu mesma não reparei na bagunça até que de fato estivesse complicado demais não esbarrar em algo. Nós nos machucamos, nós nos enganamos, até que o momento chegou; eu parti. Não da sua vida, mas da nossa história. Parti antes mesmo de terminar, e você, de me perceber.