Diferente do que esperava, não fui convidada para ser madrinha de casamento. Não recebi convite para colação, ou para qualquer outra solenidade que acabaria em poucas horas. Muito pelo o contrário, recebi um convite para vida. Algo que um dia viria ser e não nos deixaria mais. Eu me transformei. Eu virei tia. Não mãe, mas tia. Aquela figura feminina que fica no canto do quarto, observando o bebê fazer caras e bocas para os pais e sorri feito uma tonta. Eu virei tia. E ela chegou bem quietinha, envolta em um silêncio quase imaculado. Ninguém esperava por ela. Ninguém pensava nela, ninguém sequer imaginava que aquilo poderia acontecer, até que ela chegou. Primeiro veio o susto, o desespero, e depois veio a graça. A felicidade chegou agitada, afim de afastar toda e qualquer insegurança que podia se instaurar. Das certezas que tínhamos, nada ficou. Das dúvidas que apareciam, tudo voltou. E ela ficou. Minha menina, ainda tão pequena. E então, eu virei tia.

Quem diria. Olhando todo o enredo, ninguém esperava por essa reviravolta. Mas parecíamos ansiar por algo maior. Algo incrível. Foi aí que ela chegou. E ela era tão pequena que nem sabíamos como falar com ela, só sabíamos imaginar. Imaginar, e esperar. E a espera, vejam só, era rosa. Rosa com branco, rosa com rosa. Amarelo com detalhes na borda. Branco e azul claro. Verde cor de limão. Vermelho, para os sapatinhos da sorte. Era até cheio de animalzinhos que ninguém nunca entendeu porque existiam, mas que agora eram lindos. Eu virei tia da noite para o dia, e tudo mudou. Tivemos que aprender a desacelerar, a respirar fundo e a dormir mais cedo. Precisamos começar a pensar no que comer e quando comer, e estresse? Nem pensar. Preocupações apareceram, cuidados e dores. Nas costas, nos pés, no coração. Temer por quem se ama é tão doloroso quanto pode se imaginar, mas temer por quem ainda nem nasceu, não dá trégua. E ela era tão pequena, e eu já era tia, e ela me cobrava coisas que eu nem imaginava que poderia oferecer. Me fazia sentir coisas que eu nem sabia que poderiam aparecer na pauta do meu coração. Meu mundo era todo rosa outra vez, e eu era tia.

Ela nem chegou, mas tudo segue preparado para ela: colo? Ela tem o meu. Ombros para dormir? Bom, eu tenho dois. Carinho? A todo instante. Amor? Incondicional e fiel. Logo eu, tão barulhenta, agora era tia. Era tia, e precisava amar o silêncio. Precisava amar a espera, precisava amar a vigília. Ela ainda é tão pequena, mas é tão forte. Tão extensa e real, tão presente. Rouba o ar, oferece um sorriso e enche os olhos das pessoas de água. E ela ainda é tão pequena, mas ocupou um espaço tão grande na vida de tantas pessoas, que parece que já está até aqui sorrindo na inocência que ela terá. O que ela desperta dentro de nós e o seu próprio nome, vem disso; sabedoria, santidade. Aquela que nos purifica, nos coloca nos trilhos. Quem diria, logo eu que sempre andei fora da linha. Virei tia.