Você soube primeiro que eu, como sempre. Talvez essa sua graduação na área da saúde tenha te feito mais atento para as coisas que eu, mesmo sendo psicóloga, não consegui reparar. Acostumada a olhar para os outros e ir para o mundo, deixei de olhar para mim mesma e de perceber as pequenas migalhas que nós deixávamos para que pudêssemos nos encontrar. Eu fui mais complicada do que de costume e mais irritante do que deveria. Brigamos um ano inteirinho, para no final dele acabarmos juntos, trocando declarações de amor enquanto meu corpo se encaixava nos seus braços. De uma forma muito nossa, a gente desbravou os caminhos sórdidos e pouco comentados da construção de uma relação amorosa e sincera, e mesmo que tudo tenha valido a pena, doeu e ardeu bastante. Nos tirou do sério. Nos levou ao limite. O vento que chegou no final de tudo e o sol que ainda faz lá fora me lembram que a tempestade sempre vai embora, mas ela faz muito barulho primeiro. E inunda tudo. E revira. E joga no chão.

Mas valeu a pena. Valeu a pena porque eu gosto de me encaixar nos seus braços. Valeu a pena porque eu adoro teu café, amo teu sorriso e não me canso de gastar horas conversando com você, enquanto migramos da sala pra cozinha, da cozinha pro quarto e depois pra sala de novo. Valeu a pena porque se eu soubesse que você beijava tão bem eu tinha te dado uma chance antes, e que se você tivesse dito logo de primeira que sabia fazer massagem… cara, as coisas poderiam ter sido diferentes, viu? Não sei se essa tempestade teria passado mais rápido, mas eu arriscaria pegar um guarda chuva, minhas galochas vermelhas e me jogar na rua só pra ver no que ia dar. Se eu soubesse… se eu soubesse que seu abraço era tão bom, que o sexo ia me levar a nocaute e que toda vez que eu dissesse “amor, eu tô com fome”, você ia me servir um prato de tapioca com ovo e queijo prato, eu tinha esquecido o cabelo e me jogado na chuva sem culpa. Ah, se eu soubesse… fica bonitinho pensar nisso, mas a gente sabe que mesmo que a gente soubesse disso tudo àquela época a interpretação seria diferente e muito provavelmente você me esfaquearia com a faca de cortar o queijo e eu te sufocaria com a almofada da sala. Foram todas as tempestades, brigas e rompantes emocionais que nos tornamos o que somos um para o outro. Foi por conta de toda essa demora que seu abraço tem jeito de casa e seu café é tão bom.

E eu nem sei mais o que eu posso dizer por aqui, uma vez que tudo que já poderia ser dito já foi, e o que resta ser explicado você já sabe. Apesar da cara de brava e do modo como gosto de implicar com tudo e começar uma briga por qualquer coisinha, eu gosto mesmo de me encaixar nos seus braços. E sentir seu cheiro. E sorrir pro seu peito, enquanto você me aperta bem forte. Gosto de saber que estou em casa e que seu coração é meu lar e, embora eu seja bagunceira demais, prometo cuidar da minha nova casa enquanto vivo a vida com você.