Eu fico me perguntando quantas vezes você não sonhou comigo e ficou com raiva quando acordou e sentiu outro perfume no travesseiro. Quantas vezes foram, querido, as bocas que você conheceu na noite, atrás de outra que não estava lá e que não falava de Bukowski ou Guimarães Rosa como eu? Vai, me conta. Ao todo, quantos dias foram que você saiu com mulheres diferentes, buscando coisas diferentes que, no fundo no fundo, você sabia que nenhuma delas poderia oferecer?

Eu fico me perguntando, sabe? Quantas vezes? Quantas vezes foi que você assistiu o mesmo filme de comédia romântica que te obriguei a ver milhares de vezes, e teve que fingir que nunca viu ou que estava gostando? Porque no fundo nós sabemos que você odeia comédias românticas, assim como odeia andar de mãos dadas. Fala para mim, vai. Confessa. Quantas vezes você inventou desculpas para os outros, fingindo que não queria sair ou conversar, porque sabia que ia entregar a saudade que você estava sentindo? Eu fico me perguntando mesmo a respeito de quantas vezes você mentiu sobre o que você queria, inventando desculpas por aí, tentando acreditar em si mesmo de que estava disposto a seguir em frente. Você estava mesmo? Quantas vezes você repetiu isso para o espelho e sorriu, sabendo que fracassaria? Me conta.

Não sei se você fracassou ainda, mas eu sei que você vai. E mais importante ainda, você sabe que vai. Quantas vezes você insistiu que a pessoa com quem você passou a noite era a certa? Eu sei que provavelmente ela é linda. Quantas vezes você disse isso enquanto tentava tirar a blusa dela? Eu me pergunto se você ao menos se lembra do nome, ou se sabe se ela prefere café ou chá de manhã. Você ao menos conseguiu perguntar qual o filme preferido dela? Será que você se importa? Ou nem se incomoda em assumir que não?

Você sabe que quando acordar, depois de ter sonhado comigo outra vez durante a madrugada, o perfume que inundará suas narinas não será o meu e nem o bom dia, mas a vida seguirá assim mesmo. Pelo o tempo que for, da forma que der… você sentirá a minha falta, e eu me pergunto quantas vezes você sentirá que chegou ao limite e pensará em voltar, amor. Porque eu sei, que várias vezes, durante as inúmeras noites, você tocou nela e teve que fingir que era eu.