Ele era cheio de idiossincrasias. Manias irritantes, opiniões extremistas. Vivia quebrando o pau por qualquer coisinha que soasse minimamente fora do lugar. No começo eu achava que era parte do charme, depois ficou insuportável de aguentar. Mas eu até que gostava mesmo dele. A gente quando acha que ama tem dessas de aguentar, mas Deus que me livre de viver aquela vida por mais tempo do que vivi.

Nós discutimos inúmeras vezes; na faculdade, no carro, no McDonalds, no aniversário de oitenta anos da avó italiana dele. Não havia lugar para as discussões e nem limites para as alegações. Ele era fiel ao que pensava, e eu a mim mesma. Claramente isso tudo era a receita perfeita para instigar o caos, embora naquela época eu achasse também que isso fazia mais parte dos hormônios e necessidade de auto-afirmação do que qualquer outra coisa. Incrível como a gente sempre tenta justificar as coisas, não é? A gente se pegava no grito em todo lugar. Comecei a ficar sem argumentos ou vontades, e muito menos sem tesão. O charme deu lugar ao tédio.

Nós passamos meses e meses nos atracando e atacando, por entre idas e vindas. Rompantes emocionais, brigas gigantescas, problemas que mais pareciam equações exponenciais que me colocavam louca. Quando enfim a gente resolveu que não dava mais para continuar assim, terminamos. Terminamos, mas nem tudo ficou terminado. A gente ainda seguia atado um ao outro por todas as lembranças e boa rede de apoio que criamos ao longo dos anos juntos. E talvez essa seja a pior parte de quando acaba o amor, o que resta com o fim desse amor.

No final das contas, a gente ainda estava lá um para o outro, só que com menos tempo gastado juntos e menos discussões. O bate boca deu lugar ao silêncio e a raiva cedeu seu lugar para saudade. Com o tempo, eu acabei ficando tranquila. Ele ainda continuava todo cheio de idiossincrasias, e eu, ocupada demais com a minha vida para me preocupar com isso. A gente entendeu que de bom a gente tinha muita coisa, mas merecíamos o melhor. E o melhor, o melhor mesmo, não podia ser oferecido ou vivido entre nós dois. Pelo menos, não mais.

Acabou ali.

Ele era tudo. Ele foi tudo. Fomos tudo, menos bons.